quinta-feira, dezembro 04, 2014

Como viver o luto- Contardo Calligaris






Qual é o melhor jeito de se viver o luto?
Aqui um ótimo artigo do Contardo sobre nossas perdas.

quinta-feira, novembro 27, 2014

Corpo e mente- Arquivo revisitado

























Corpo e mente

Post de 2009, abril, 16

Todos nós sabemos que nosso corpo responde a fatores emocionais, muitas vezes imediatamente. Quando nos aborrecemos, ficamos tristes. Quantos de nós perdem a fome ou começam a comer exageradamente? Se somos frustrados desejamos comer um chocolate ou um doce.
Cada pessoa tem uma maneira de reagir às frustrações, quando este comportamento torna-se habitual passamos a ter problemas com o peso, além das frustrações provocadas por não poder vestir algo que gostaríamos, sentir-se feio/a ou sentir-se culpado.
Existe o lado cientifico que já comprovou que o chocolate, por exemplo, ajuda a sintetizar a serotonina, que é importante para o nosso humor evitando a depressão. Sabemos que caminhar ajuda a melhorar nosso estado de espírito, pois fabricamos mais endorfina, importante para nosso bem estar, fazendo qualquer outro exercício físico, também.

Corpo e mente estão sempre relacionados.

As mães são as primeiras provedoras de alimento, através do alimento, das primeiras mamadas temos nossas primeiras experiências de satisfação, começamos aí a lidar com a comida e com as frustrações. Se as mães privam a criança nesta fase ela terá graves problemas emocionais, se a mãe exagera no alimento teremos uma relação distorcida com os alimentos.

Aí, pensamos, mas como evitar isto?

Será que nossas mães souberam a medida certa?

Difícil responder, alguns de nós somos mais equilibrados em relação ao alimento, outros não sabem lidar bem com a comida.

A comida para o bebê é afeto também, é a maneira como ele responde à mãe , se um filho rejeita o peito a mãe fica triste, se a mãe não dá o peito o bebê grita desesperadamente, quem já viu um bebê com fome sabe o poder que ele tem na garganta. As mães se desesperam também. Identificar através do choro do bébe qual a sua necessidade nem todas as mães conseguem, levando, no que concerne à alimentação, a deformações alimentares posterirores

Naturalmente, nem só a mãe é responsável por estas deformações alimentares, também as babás, os pais, os avós muitas vezes acostumam as crianças a usarem a alimentação com muleta para satisfazer uma frustração. Crianças que sofreram abandono (físico ou emocional) quando crescem desenvolvem a necessidade de sentir o estômago cheio, são estas crianças que se tornarão adultos que bebem demais, comem demais, usam drogas...

O que fazer agora, depois que estes hábitos foram adquiridos? Precisamos separar a fome do vazio existencial, das frustrações, da ansiedade, da tristeza. Se o problema não é orgânico, pode ser, o médico clínico ou endocrinologista dirá, um especialista nos problemas da alma ajudará.

A psicologia desnuda estes sentimentos e chega ao âmago da questão. Como chegar lá? Através do diálogo com um profissional especializado você vai descobrir por que come demais ou de menos, por que não emagrece apesar de fazer dieta ou por que apesar de desejar emagrecer não consegue seguir uma dieta adequada. Aspectos subjetivos alteram o metabolismo, é preciso conhecê–los para não sermos prisioneiros, para livrar-nos dos nós que impedem de vivermos como esperamos, desejamos.

Além das questões pessoais há aspectos culturais na nossa maneira de lidar com a comida, quando recebemos alguém em nossa casa sempre oferecemos café, bolo, biscoitinhos, bebidas. É uma forma de dizer que apreciamos sua presença. É um gesto cultural, quando vamos à casa de alguém esperamos que nos receba com algo, à seco fica parecendo que não agradamos, que a visita deve ser rápida.

O receio da própria sensualidade, ou sexualidade, é outro motivo que, sem que se perceba, leva muitas pessoas a engordarem ou à anorexia. A nossa imagem corporal é a primeira que apresentamos num contato social ou profissional, exceto em relações virtuais, por exemplo. A gordura serve como um escudo que afasta paqueras e namorados. A capa de gordura faz com que você esconda suas emoções, e acabe cancelando encontros, adiando viagens, faz você usar roupas largas, não sair no final de semana... tudo por estar gorda, não querer ser vista por ninguém. Aí, insatisfeita, culpada, come sem limites, afoga as mágoas na comida ou bebida. É um circulo vicioso que precisa ser quebrado.
Este quadro é agravado se a pessoa não faz nada para mudar, a culpa aumenta a cada dia.

O que fazer para mudar?

Como aumentar a auto estima? Só uma mudança de hábitos fará você mudar. É preciso ter vontade, se esforçar. Deixando de se enganar, geralmente fazemos tudo para nos enganarmos, arranjamos desculpas para tudo e vivemos no piloto automático, esperando mudanças mágicas. Isto não existe. É preciso olhar para dentro e sentir que é possível mudar, sempre é possível mudar. Mudar a nós mesmos é possível, mudar o outro não. Depende de cada um de nós, não adianta o marido, a mulher, o médico, o terapeuta, desejar mudar você, você tem que querer mudar e isto traz os riscos de uma nova situação, tudo que é novo assusta.

Algumas vezes é necessário até aprender a ser magro, quando se acostuma a ser gordo. Ou aprender a ser forte quando se é muito magro.

É preciso reconstruir a sua imagem corporal. Saber que pode ficar diferente.

É preciso descobrir outros prazeres na vida além de comer.

É preciso dominar o impulso de comer e aprender que a compulsão provoca um prazer imediato, que não compensa porque virá com a culpa por engordar. Melhor seria a satisfação a longo prazo.

É preciso ser perseverante, já que 66% das pessoas desistem no meio do caminho.

É preciso se exercitar, andar, nadar, alongar, fazer yoga, escolha o que você gosta de fazer.

É preciso alterar comportamentos que contribuem para o aumento de peso, como, por exemplo, comer depressa demais, beber durante as refeições, exagerar no couvert do restaurante achando que como está ali tem que aproveitar. Culturalmente qualquer comemoração é acompanhada de excessos, festeja-se comendo e bebendo em excesso. Festejar comedidamente ninguém gosta, mas depois vem a culpa no dia seguinte pelo exagero.
Diante de tantas coisas prementes não desista, pois não existe fórmula mágica para se livrar de uma dependência alimentar, como não existe mágica para se livrar de drogas. Existem tratamentos, não adianta você deslocar a compulsão de comer para outra compulsão , procure enfrentar suas dificuldades de frente, procure se interiorizar e entender porque come demais ou de menos. Não é se privando de tudo numa dieta rígida que vai resolver seu problema, é se conhecendo melhor, reconhecendo os momentos onde a ansiedade está grande, desatando os nós, que terá uma relação melhor e equilibrada com os alimentos, desta forma encontrará prazer e não culpa ao comer e olhará para seu corpo com prazer.

Você sairá ganhando, basta querer. Só depende de você, vá em frente. E boa sorte!

PS: Não abordei a anorexia, nem bulimia, porque são questões mais delicadas, ficaria um texto mais longo ainda.

A filha de James Joyce







Um artigo sobre a filha de James Joyce, que sofria de esquizofrenia.
Aqui

sábado, novembro 22, 2014

A morte e o luto na psicanálise

A psicanalista Maria Rita Kehl analisa o clássico Luto e Melancolia, em tradução de Marilene Carone, que está sendo relançado pela Cosac Naify.

Luto e Melancolia é o último da série de textos resultantes do grande esforço teórico que Freud batizou de metapsicologia. Desde que estreou com A Interpretação dos Sonhos, em 1900, Freud já mostrava empenho em compreender as expressões patológicas ou normais da alma humana com base na inter-relação entre os três planos – tópico, dinâmico e econômico.
Mas foi entre 1914 e 1915 que ele produziu a série de ensaios de metapsicologia, que começam na Introdução ao Narcisismo e se estendem até Luto e Melancolia, passando pela investigação das pulsões, da natureza do recalque e do funcionamento do sistema inconsciente.
Embora a psicanálise não tenha sido construída – e nem poderia – em uma linha evolutiva sem desvios, o leitor da obra freudiana há de perceber o percurso conceitual que ali se desenha. A aposta iluminista que orientou a invenção da psicanálise como método investigativo e a consequente descoberta do inconsciente e suas diversas formações, patológicas (angústias, inibições, sintomas) ou cotidianas (sonhos, chistes, poesia) fez com que Freud prestasse conta a seus leitores a cada mudança ou avanço teórico empreendido.
Isso possibilita que o leigo ou o estreante compreenda, com um pouco de esforço e paciência, alguns textos lidos ao acaso, fora da ordem cronológica em que foram produzidos. É possível tirar algum proveito, por exemplo, da leitura do difícil e ousado Além do Princípio do Prazer, de 1920, sem ter sido iniciado a partir do livro inaugural de 1900. É possível entender em que consiste o complexo de Édipo a partir dos textos dos anos 1910, sem ter lido os Três Ensaios para uma Teoria Sexual, de 1905.
Em uma leitura menos rigorosa, é possível acompanhar os relatos clínicos de Freud sem ter lido os textos que estabelecem os alicerces teóricos da recém-fundada psicanálise. O fato é que o entendimento do projeto freudiano se aprofunda e se amplia na medida em que se acompanha, mais ou menos pela ordem, um conjunto de ensaios nos quais Freud está empenhado em resolver um problema específico. No presente caso: a investigação da psicose batizada por Kräepelin em 1883 de “maníaco-depressiva”, que Freud trouxe para o campo da psicanálise no presente.
Luto e Melancolia, não teria sido possível antes do desenvolvimento das idéias expostas emIntrodução ao Narcisismo e As Pulsões e Seus Destinos, ambos de 1914. Ou se não tivesse o apoio conceitual estabelecido em O Recalcamento O Inconsciente, ambos de 1915.
Na direção regressiva, hoje nos parece óbvio que a teoria da melancolia tenha conduzido a textos tais como Considerações Atuais sobre a Guerra e a Morte, do mesmo ano, uma investigação filosófico-científica sobre a desilusão (melancólica) que a Primeira Guerra trouxe para os habitantes das supostas civilizações evoluídas do Ocidente.
Estamos diante de um percurso de pensamento que hoje nos parece ter sido destinado a desaguar, em 1920, na importante revisão da teoria pulsional expressa em Além do Princípio do Prazer, em que a antiga oposição entre pulsões do ego e pulsões sexuais foi substituída pelo conflito – mas também por variadas soluções combinatórias – entre pulsão de vida e pulsão de morte.
A partir desse ponto, ficou impossível refletir sobre a psicopatologia sem levar em consideração o trabalho da pulsão de morte. Que por sua vez já estava em gestação desde a teoria da melancolia.
Entre as ideias que prepararam o terreno para Luto e Melancolia vale destacar, de Introdução ao Narcisismo, a importante constatação de que o autoerotismo precede o narcisismo. Nos primeiros meses de vida, o bebê ainda não constituiu “uma unidade primitiva comparável ao eu”. Seu corpo é sede de experiências fragmentadas de prazer, que aos poucos organizam os investimentos pulsionais e permitem aquilo que, no texto seguinte a este, Freud haverá de estabelecer como a possibilidade de reversão da pulsão, desde o objeto-alvo (não encontrado, ou não satisfatório), de volta ao eu. O autoerotismo participa dos modos de satisfação da libido do eu.
É claro que a criança não é autossuficiente no desenvolvimento do autoerotismo. A mãe ou um substituto seu representam para a criança este Outro superpoderoso que também haverá de comparecer, de forma negativa, na origem das melancolias. É ela quem erotiza com seus cuidados (a começar pela amamentação) o corpo do infans e colabora para estabelecer os caminhos de satisfação pulsional que o bebê saberá, faut de mieux, percorrer por conta própria ao sugar o polegar, balançar-se no berço ou, meses mais tarde, tocar seus genitais.
Mas o autoerotismo ainda não é igual ao narcisismo do eu: um novo ato psíquico deve ocorrer para que a tal unidade primitiva se forme e para que a criança se identifique com ela, ou seja, com seu próprio eu. Além da satisfação libidinal autoerótica, o infans haverá de identificar-se com o objeto privilegiado que ele representa frente ao amor e ao desejo de seus pais.
A partir desse ponto, está estabelecida a base para a formação da unidade do ego freudiano, fonte de investimento libidinal (a partir de 1915 diremos: pulsional) e dessa forma particular de amor a que chamamos narcisista. Nesse ponto da constituição psíquica Freud haverá de encontrar, em 1915, a relação narcísica com um objeto frustrante que marca a estrutura da melancolia.
O narcisismo primário forma a base para o narcisismo secundário, vulgarmente conhecido como a dose essencial de estima que o ego dedica a si mesmo. O qual, por sua vez, é tributário das desilusões sofridas pelos pais em relação às suas próprias fantasias narcisistas: os filhos representam uma renovação das velhas esperanças infantis dos adultos, contrariadas pela realidade da vida.
Outra parte do narcisismo secundário resulta de suas eventuais experiências exitosas – tanto no sentido dos investimentos em direção aos ideais do ego quanto nas buscas de satisfação da libido objetal. O maior ou menor êxito na constituição do narcisismo secundário varia, a depender de que os investimentos objetais estejam ou não em sintonia com os ideais do ego – caso contrário, estes ficarão sujeitos ao recalque.
A vicissitude bastante comum de se desejar o que não se deve, o que não se pode, o que não contribui para a valorização do ego contribui decisivamente para a diminuição da autoestima dos neuróticos, quando não conduz a inibições que impedem os caminhos de desenvolvimento do ego, ou a soluções de compromisso sintomáticas.
As reflexões de Freud sobre o narcisismo produziram uma importante mudança de enfoque na teoria. O papel dos obstáculos que o princípio de realidade impõe à plena satisfação dos impulsos do bebê passou a uma posição secundária frente à questão da perda do narcisismo primário. A paixão por “voltar a ser seu próprio ideal mais uma vez” será mais decisiva para a escolha de neurose que conclui a travessia edípica do que a frustração do impulso sexual propriamente dito, em relação à mãe. Vale observar também que essa inflexão teórica será um dos pontos decisivos para o “retorno a Freud” efetuado por Lacan.
Na obra freudiana, a retomada da ênfase sobre a questão do narcisismo amadurece  exatamente em Luto e Melancolia. A falha na constituição do narcisismo primário estabelece uma distinção entre a “neurose narcísica” da melancolia e o sofrimento que caracteriza o trabalho de luto.
O trabalho psíquico empreendido pelo enlutado, embora empobreça o ego e torne o sujeito inapetente para quaisquer outros investimentos libidinais, pode ser considerado como um trabalho da ordem da saúde psíquica. É um trabalho de paulatino desligamento da libido em relação ao objeto de prazer e satisfação narcísica que o ego perdeu, por morte ou abandono.
Ter sido arrancado de uma porção de coisas sem sair do lugar: eis uma descrição precisa e pungente do estado psíquico do enlutado. A perda de um ser amado não é apenas a perda do objeto, é também a perda do lugar que o sobrevivente ocupava junto ao morto. (…) Mas é normal, escreve Freud, que o apego do enlutado ao seu morto diminua aos poucos, e que a “psicose alucinatória de desejo” – um conceito estabelecido no texto imediatamente anterior ao nosso, o Complemento Metapsicológico à Teoria dos Sonhos, também de 1915 – ceda lugar à aceitação da realidade.
Embora a libido tenha enorme resistência em abandonar posições prazerosas já experimentadas, aos poucos a ausência do objeto impõe o doloroso desligamento, até que o ego se veja “novamente livre e desinibido”, pronto para novos investimentos. Pronto para voltar a viver.
Freud revela nesse texto uma disposição investigativa inesgotável. Nada, para ele, é tomado como natural, nada escapa ao seu questionamento. Mesmo que o trabalho de luto seja uma função psíquica normal, não patológica; mesmo que a dor causada pela perda de um objeto de amor nos pareça totalmente compreensível, Freud não se dá por satisfeito. O aspecto doloroso do luto só será esclarecido, escreve ele, quando a dor for explicada do ponto de vista econômico, tal como o autor já havia esboçado em A Repressão.
Mais difícil é entender o que ocorre com os melancólicos, estes que desconhecem tanto a natureza do objeto perdido como a origem da perda. Mesmo quando sabem nomear quem perderam, não sabem dizer o que foi perdido junto com o objeto. A observação clínica nos sugere que uma posição da libido nos primórdios da vida psíquica tenha sido abandonada, ou perdida.
Freud estranha também que falte ao melancólico o sentimento de vergonha comum aos arrependidos, aos que de fato se consideram indignos e sem valor. Se estes se escondem e tentam fazer calar sua culpa e seu crime, os melancólicos parecem sentir necessidade de alardear suas baixezas e sua indignidade.
Debatem-se em autoacusações delirantes sem saber que os insultos furiosos voltados contra si próprios em verdade correspondem às características de alguma outra pessoa – daí a força da expressão encontrada pela tradutora: “para eles, queixar-se é dar queixa”.
Se “a sombra do objeto” encobre o ego, isso indica a base narcísica do investimento (forte fixação; baixa resistência) e a identificação precoce do ego com o objeto perdido. A superposição desses dois aspectos traz à luz todos os tormentos característicos da ambivalência amorosa, que nos melancólicos é experimentada com grande intensidade.
Mas a identificação narcísica ainda não é suficiente para explicar o furor das autoacusações melancólicas que podem atingir o paroxismo quando o sujeito, ao tentar destruir o objeto odiado de sua identificação inconsciente, pode chegar a destruir a própria vida.
O “autotormento indubitavelmente deleitável da melancolia” aponta para uma modalidade sádica de satisfação pulsional, cuja natureza exige uma explicação do ponto de vista tópico. A satisfação sádica em insultar e humilhar o ego provém de uma de suas funções específicas, a consciência moral ou (como ficará estabelecido depois de 1920, em O Ego e o Id) o superego. Ora: o sadismo do superego não caracteriza exclusivamente a melancolia. Ele comparece também, por exemplo, nas manifestações de masoquismo moral dos neuróticos obsessivos. Se na melancolia ele se manifesta com muito mais crueldade, isso se deve também à desfusão entre Eros e Tânatos, que libera o gozo da pulsão de morte do limite imposto pelos investimentos parciais efetuados pelas pulsões de vida. Mas esse ponto só poderia ser explicado depois de Além do Princípio do Prazer, escrito também em 1920.
Luto e MelancoliaSigmund Freud
Trad.: Marilene Carone
Cosac Naify
144 páginas
R$ 39,90

    quarta-feira, agosto 06, 2014

    Amor, encontros e desencontros



    Eros e Psiquê, de Antonio Canova



    Encontros e desencontros amorosos



    Vivemos em busca de um encontro, encontro mágico que preencheria o nosso vazio existencial, acabaria com a solidão. Este encontro, encantado, não existe, porque cada um de nós vem com suas fantasias, carregamos nossos fantasmas... temos uma expectativa tão especial que, quase sempre, é frustrada.

    Somos seres complexos, não somos previsíveis. Temos momentos de generosidade, de doação, mas na maior parte do tempo estamos à espera que o outro nos dê aquilo que esperamos, sem que ele saiba o que desejamos. Nem mesmo nós, na maioria das vezes, sabemos o que desejamos do nosso parceiro, a não ser amor incondicional.

    Os encontros amorosos acontecem quando imaginamos que o outro vai suprir nossas expectativas. Quando acreditamos que o parceiro é nosso par ideal- a outra metade da maçã. Quando estamos identificados com este outro, que nem conhecemos. Apenas supomos ser. Quando percebemos aspectos que não gostamos, acreditamos que ele poderá mudar- mudará por nós- haverá a mudança mágica para sermos felizes para sempre.

    Na entrega amorosa acreditamos ser um em dois.

    Muitas vezes estamos apaixonados pela paixão, pelo estar enamorado, com toda a adrenalina que isto traz. É uma viagem maravilhosa e assustadora, cheia de ansiedades e alegrias, onde o medo de perder o objeto amado se faz constante.

    Este encanto se quebrará em algum momento, pode ser com um gesto bobo, uma palavra mal- dita, uma escolha “brega”, uma sujeirinha no antes belo sorriso.
    Uma descoberta que não se encaixa naquilo que imaginávamos do ser amado.

    Algumas pessoas, mais que outras, entram em pânico diante de incertezas, ficam dominadas pelo ciúme. Aqui, entram os fantasmas de cada um. Se você experimentou abandono na infância, viverá a espera de um novo abandono, não haverá amante, amantíssimo, que o deixe seguro. Você perdeu lá atrás. Estará à espera de um reconhecimento, que faltou quando era imaturo- quando estava em formação psíquica.

    A paixão, o estar apaixonado se quebrou, mas há afeto, há amor.

    Por que diferenciamos paixão de amor?
    O amor seria mais generoso, mais tolerante, cúmplice. Quando amamos vemos no outro defeitos, mas, mesmo assim, sentimos afeto por ele, algumas imperfeições nos comovem e nos fazem transbordar de afeto. Lembro de um casal de atores famosos franceses- Yves Montand e Simone Signoret- ele disse numa entrevista, jamais esquecerei, que quando a via colocando os óculos, depois dos 50 anos, se enchia de afeto.
    Na maioria dos casais, existe muita intolerância, cobrança, muita culpa jogada no outro pela própria infelicidade. Quando isto acontece é hora de parar e repensar a relação. Pensar o que esta relação significa. O que esta pessoa representa.
    Temos medo de mudar, medo do novo, medo de falar de assuntos delicados, de mágoas, e não percebemos que estes sentimentos vão alimentando o rancor, nos distanciando de quem amamos e nos adoecendo.

    Na década de 70, no auge do amor livre e de liberdade sexual, as pessoas passaram a viver sem limites, tudo era válido, tudo devia ser dito, confessado. Eu discordo, nem tudo deve ser dito, por que contar para o parceiro uma fantasia sexual, por exemplo? Este comportamento acabou gerando casais que se propunham “modernos”, mas que na realidade estavam confusos, quanto ao comportamento.
    Tudo pode?
    Não.
    Então por que não guardar as fantasias? Afinal é o que temos de mais intimo.

    Atualmente, temos disponível uma quantidade enorme de livros, revistas, sites, que se propõem a ensinar casais a se relacionarem. Fomos todos bombardeados por manuais, vídeos sobre sexo, como dar prazer, como obter prazer. Isto trouxe mais informações- o que não havia antes- mas também um nível de exigência muito grande, não basta um orgasmo, é preciso ser múltiplo, é preciso saber onde é o ponto G.

    Sabemos que isto tudo é irrelevante numa relação amorosa, pois cada casal tem uma
    química própria, não existem regras, na verdade. Não sabemos o que se passa entre um casal na intimidade.

    O mundo real é muito diferente do mundo criado pela mídia e pelo nosso imaginário. Vivemos com nossas imperfeições os nossos encontros e desencontros amorosos.
    E “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, como diz o poeta Caetano.

    A paixão é virtual- sempre se passa via nosso imaginário- e o amor seria virtual, também?
    E os amores na internet seriam sempre virtuais? Agora você tem a palavra. O que pensa sobre isto?
    Diga o que pensa, nós o ouvimos.

    Por que o adolescente sofre? (arquivo)




    Por que o adolescente sofre?

    Elianne Diz de Abreu


    O adolescente passa por uma fase de grandes perdas- lutos.


    Todos sabemos que o adolescente é tido como difícil, rebelde. Falamos do adolescente como o cara complicado, desagradável, do contra, de humor variável- pode rir num minuto, no outro chorar.
    É a fase das mudanças hormonais que fazem mudar a voz, o corpo se transformar, deixar de ser criança.

    Mas o que acontece com o adolescente? Poucos se importam.

    Os pais se queixam, os professores reclamam...

    O que se passa com eles poucos prestam atenção. Ele anda trancado no quarto, no banheiro, fora de casa o dia todo...
    Talvez o desconforto que sinta o faça se isolar ou buscar grupos onde se identifique.


    O adolescente passa por uma fase de grandes perdas- lutos.

    Perde os pais infantis.
    Aqueles pais que cuidavam dele com carinho, deixam-no muito solto, sem atenção, na maior parte das vezes, é ele quem tem que cuidar de si. E é difícil, a vida vira um caos, esquece compromissos, perde chaves, come o que é mais fácil...

    Perde o corpo infantil.
    Rapidamente seu corpo muda, pelos crescem, formas se delineiam, não é nem adulto nem criança. Ele percebe as mudanças acontecendo e sente-se impotente- cresce, desenvolve-se: “Até onde?”, pensa.

    Perde a identidade infantil.
    Neste processo muitas vezes se volta contra os pais- que foram as figuras mais importantes e com as quais se identificou. Precisa afastar- se para ser ele mesmo, o que causa estranheza - passa a questioná-los, ser do contra. O pai deixa de ser o super herói, a mãe deixa de ser a mãe maravilhosa e linda. É o processo de desmitificação dos pais.

    A sexualidade torna-se premente- há mais desejo- e um mundo de descobertas. Há quase sempre muita insegurança. O que fazer com o corpo sexualizado pronto para compartir prazeres? É preciso ter um par. É aqui que aparecem os maiores conflitos com os pais pela dificuldade que têm em aceitar que os filhos cresceram e têm sexualidade. Os pais querem controlar o que não é possível.

    Perde o mundo infantil.
    Onde havia proteção e não sente que haja espaços para ele: para algumas coisas ainda é criança, para outras já é tido como adulto. Quantos de nós dissemos: “Você não tem ainda idade para isso!”. Ou: “Você já está bem grandinho para isso.”
    Perde dos jogos infantis.
    Nesta fase ele não pode mais brincar como na infância. A menina precisa abandonar as bonecas. O menino brincadeiras próprias da infância.

    O jovem vive na expectativa de que algo venha a acontecer e ele não sabe o que virá.
    Tudo gera conflito e angústia.
    Mas será que todos vivem a adolescência? Alguns precisam trabalhar desde muito cedo, outros são pais ou mães muito jovens, passam por estas mudanças sem terem possibilidade de entrar em crise. Sem terem tempo para sentir intensamente o que ocorre.

    É bom lembrar que os pais vivem o mesmo processo de luto: enquanto o adolescente sofre com o crescimento e mudanças- que o impelem para o mundo fora de casa- os pais sofrem por perderem o controle do filho, por sentirem-se menos amados diante de tantas críticas, por perceberem que a vida escorre diante deles- enquanto o jovem tem tudo pela frente, muitos pais sentem-se frustrados e infelizes com suas escolhas.

    Por que o sofrimento? Porque toda mudança provoca alguma crise.

    É preciso aprender, neste momento rico, e renovar-se- há tempo para pais e filhos.



    TRIUNFA A PULSÃO DE MORTE


    M. Bernadette S. de S. Pitteri



    Texto  daqui


    O mundo acompanha boquiaberto, com ar de dejà vu, a intensificação do conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza, repetição ad nauseam da mesma história, desde a saída dos britânicos da região. A atual espiral de violência desencadeou-se após o sequestro de três jovens judeus na Cisjordânia, num ataque atribuído ao Hamas (grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza), e logo depois de um jovem palestino ser queimado por extremistas judeus. O barril de pólvora voltou a explodir e cruzaram os céus da Faixa de Gaza os foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel, sem que jamais tenham cessado ofensivas terrestres, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos (intifadas).

    Motivos históricos, religiosos, políticos, materiais, levam israelenses e palestinos a disputarem a soberania da região. Há desacordo quanto à divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como estado independente.

    Confrontos entre árabes e israelenses são ancestrais, mas os embates entre esses povos de mesma origem étnica, recrudesceram no final do século XIX, quando o movimento sionista e o nacionalismo árabe começaram a ganhar forma. Seria simplista falar de guerra religiosa ou de ódio entre árabes e judeus, mas nada simplista é a pulsão de morte que reina soberana.

    A grave situação da Palestina hoje, particularmente na Faixa de Gaza, enraíza-se nos estertores do Império Otomano e no posterior e desastroso mandato britânico na região. Com a queda do Império Otomano, a Inglaterra transforma a região em colônia britânica, institui um protetorado (apoio dado por uma nação a outra menos poderosa) na região pleiteada por palestinos e israelenses.

    Com o início da Segunda Guerra Mundial e a perseguição dos nazistas aos judeus, os problemas se agravaram; os judeus queriam fixar-se na Palestina, há muito território árabe.

    Com os confrontos entre árabes e judeus, iniciaram-se discussões sobre formas de solucionar a questão. Em 1947, antes da saída dos britânicos, a Organização das Nações Unidas (ONU) dividiu o território, parte para judeus, parte para árabes. A insatisfação em torno desse mapa gerou uma guerra civil. Com a saída dos britânicos em 1948, países árabes vizinhos tentaram invadir Israel, mas ao final do conflito, os israelenses mantiveram seu território e os palestinos ficaram impossibilitados de criar seu próprio estado. Em 1967, a Guerra dos Seis Dias entre Israel e as nações vizinhas, resultou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, incluindo a parte oriental de Jerusalém.

    A guerra de 1967 parece ser o núcleo da problemática mais recente, dificultando a solução: pelas fronteiras de 67, Jerusalém oriental deveria pertencer aos palestinos, que a querem como capital, e a população de Israel está a ter Jerusalém como capital. Não há solução simples, se ambos querem o mesmo e de nada abrem mão.
    O recrudescimento do racismo, já apontado por Lacan no Seminário 19, parece ter grande parte no conflito e Freud já apontava para o fato da impotência de argumentos lógicos diante dos interesses afetivos, o que deixa espaço ao reinado da pulsão de morte e explica em parte o fracasso das constantes investidas diplomáticas na região.

    domingo, maio 11, 2014

    O que significa ser mãe nos dias de hoje?






    Artigo da Folha de São Paulo

    Betty Milan entrevista Élisabeth Badinter


    RESUMO

    Escritora e psicanalista entrevista a também escritora Élisabeth Badinter, ativista francesa que causou controvérsia nos anos 1980 ao defender que o amor materno é uma construção nascida do convívio. Ela fala da maternidade hoje, pressionada pela crise e pela ecologia, e sobre adoção por casais homossexuais.
    *
    Élisabeth Badinter pode ser apresentada como escritora, filósofa, feminista e mulher de negócios -é presidente do Conselho do Grupo Publicis, terceira maior empresa de publicidade do mundo.
    Ela também pode ser apresentada como uma mulher cujo estilo evoca -pela elegância e simplicidade- o das aristocratas. Sua maneira de falar, pela extrema clareza, faz pensar nos escritores franceses do século 18.
    Mas é por suas ideias que Badinter, 70, "uma das mil filhas de Simone de Beauvoir", como ela própria diz, ficará na história.
    Em especial por ter ousado escrever, há quase 30 anos, "Um Amor Conquistado - O Mito do Amor Materno" (Nova Fronteira; esgotado), livro no qual afirma que o instinto maternal é um constructo social e que o amor nasce do convívio com a criança.
    Em "O Conflito - A Mulher e a Mãe" [trad. Vera Lúcia dos Reis, Record, 224 págs., R$42], que é seu livro mais recente, ela denuncia vigorosamente a pressão exercida sobre as mulheres para que amamentem e para que sigam práticas como dormir com seus bebês. "Esquecemos que, depois da guerra, as crianças foram amamentadas com mamadeira e tiveram uma vida longa".
    O feminismo de Badinter é o de quem defende o direito das mulheres a usarem de seu próprio corpo como bem entenderem -o que inclui do exercício livre de sua sexualidade ao aborto e à prostituição. Na mesma linha, defende o casamento homossexual e a homoparentalidade.
    Sobre esses temas, ela falou à Folha no apartamento em Paris em que vive com o marido, o advogado e ex-ministro da Justiça da França Robert Badinter, pai de seus três filhos.
    *
    Folha - O que a levou a escrever sobre o mito do amor materno?
    Élisabeth Badinter - Uma observação no jardim de Luxemburgo, em Paris. Vi no rosto das mães o aborrecimento por estarem ali sozinhas com as crianças. Pareciam se sentir alienadas. Questionei então o mito do instinto maternal, segundo o qual, durante a gravidez, nós sentimos pelo feto um amor irresistível e automático. Esse amor existe entre os macacos, mas não entre nós, que temos um inconsciente, uma história e uma relação com os nossos pais. Perguntei-me então a quem o mito do amor materno era útil.
    Qual foi a resposta?
    Acho que sua utilidade é atribuir um papel às mulheres, um papel exclusivo. Para os homens, o poder, e, para as mulheres, a casa, o cuidado com as crianças, os trabalhos domésticos.
    O que pode explicar o surgimento desse mito?
    No século 18, só uma criança em cada duas sobrevivia, e isso porque as crianças eram entregues a babás mercenárias, que não as alimentavam devidamente. Nem as aristocratas, nem as burguesas e nem as pequeno-burguesas queriam amamentar. No século 19, fizeram uma enorme pressão sobre as mulheres para que ficassem em casa e amamentassem durante seis meses, um ano, a fim de que os bebês sobrevivessem. Consideravam que o leite materno assegurava a sobrevida, e a França precisava de soldados e de camponeses.
    A maternidade foi novamente o tema de "O Confilto - A Mulher e a Mãe", publicado em 2010. Nele, você denuncia a volta a uma concepção reacionária da maternidade em nome de uma certa ecologia pura e dura. Como explicar o retrocesso?
    Uma das causas é a crise econômica; as mulheres da geração seguinte à minha foram as primeiras a serem afetadas pela crise. Entre elas, as que tinham feito estudos universitários perguntavam-se de que servia ter uma dupla jornada de trabalho se, de um dia para o outro, podiam ser demitidas -jogadas no lixo como um lenço de papel- pela empresa na qual trabalhavam. Houve um desamor entre a empresa e as mulheres.
    Com o discurso ecológico, surgiu a ideia de que a geração anterior, a minha, pecou pelo consumismo excessivo em detrimento da natureza. Houve uma crítica ao nosso modo de vida. A geração das filhas sempre critica a das mães. As mães eram feministas, queriam a igualdade; as filhas disseram a si mesmas que não queriam ser iguais a essas mães, que levaram uma vida de cão, voltavam do trabalho completamente esgotadas etc.
    A ecologia está muito na moda no Brasil. Que imperativos da ecologia pura e dura devem ser recusados?
    Acho necessário recusar o ódio a tudo que diz respeito à ciência. Penso na desconfiança das mulheres em relação aos remédios, ao mundo hospitalar, à [anestesia] peridural. A ideia de que dar à luz é um sofrimento maravilhoso me horroriza. Como isso é masoquista! Cuspimos sobre séculos de progresso que fizeram a condição feminina melhorar, deram à mulher mais satisfação pessoal e corporal.
    Em "Conflito" você diz que, desde o século 19, os modelos de mãe proliferam, quando não existe modelo possível, e sim casos diferentes e únicos. Poderia falar sobre isso?
    A mãe ideal é tão rara quanto Mozart. Há mulheres com um dom particular, que conseguem achar a boa distância entre elas e a criança e chegam a conciliar da melhor forma o seu desejo de mulher e a sua vida de mãe. Mas a verdade é que nós somos todas mães medianas, para não dizer medíocres. Uma mulher é um ser humano com seus desejos, sua história e suas neuroses. Não há como ser perfeita, a gente não entende tudo o que acontece na vida do filho.
    Mas podemos diminuir a quantidade de erros escutando, em vez de ter ideias fixas sobre a educação.
    É verdade. Mas, frequentemente, essa ideia fixa é inconsciente. Por outro lado, venho de uma geração de mães que escutaram seus filhos e toleraram muita coisa. Será que eles são mais felizes por causa disso? Não tenho certeza.
    O fato é que ninguém ensina a ser a mãe do próprio filho.
    Não, e a gente também é mãe em função da própria mãe. Adotamos o modelo dela ou um contramodelo. Nos dois casos, acabamos sendo mães medíocres.
    É diabólico dizer para as mulheres que nós podemos ser a mãe ideal, porque é uma fonte de culpa. É preciso dizer que a gente faz o que pode: nos confrontamos com dificuldades que não sabemos resolver e ponto. É o destino da humanidade.
    Recentemente, na França, uma parte da população se opôs à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e à adoção de crianças por casais homossexuais. Você participou do debate, defendendo o direito à homoparentalidade.
    Passei anos pensando no assunto, perguntando-me se eu era a favor ou contra. A inexistência de um modelo natural perfeito me parece decisiva. Ao longo dos séculos, houve tantos fracassos nas famílias, tantos dramas! Como a natureza produziu muitos fracassos, acho que a família heterossexual não pode dar lição alguma. Existe ainda uma intolerância muito grande em relação à homossexualidade.
    Na França, nós fizemos o Pacs [Pacto Civil de Solidariedade, contrato semelhante ao de união estável] e é possível que as pessoas contrárias ao casamento entre homossexuais temessem que, depois do casamento, viesse a filiação. Só que as crianças educadas por casais homossexuais não são nem mais felizes nem mais infelizes do que as educadas por casais heterossexuais.
    Sobretudo porque a função paterna pode ser exercida por uma mulher, e vice-versa.
    Com certeza.
    Se o que importa são as funções paterna e materna, do ponto de vista da psicanálise, não há por que se opor ao casamento homossexual.
    Françoise Dolto [psicanalista infantil francesa] observou que não há mais crianças perturbadas entre os filhos de homossexuais do que entre os filhos de heterossexuais. Os americanos também observam isso há 30 anos. Fizeram muitos estudos com filhos de pais homossexuais e de pais heterossexuais e não verificaram nenhuma diferença essencial.
    O problema é que, no fundo, nós pensamos que a função paterna e a função materna devem ser encarnadas por um homem e por uma mulher, o que não é verdade.
    Qual deve ser atualmente o papel do feminismo?
    Acho que devemos sustentar tudo o que leve à igualdade dos sexos. Estou em total desacordo com o feminismo que faz da mulher uma vítima dos homens. A insistência na mulher como vítima é negativa quando queremos seguir pelo caminho da igualdade. O feminismo que interessa é o que induz as mulheres à conquista. É necessário dizer para as mulheres: "O mundo é seu. Vá em frente".

    BETTY MILAN, 69, psicanalista e escritora, é autora de "Carta ao Filho" (Record). 





    domingo, março 30, 2014

    A violência contra mulheres






     A pesquisa do IPEA"Tolerância social à violência contra as mulheres" revela um quadro macabro sobre a disposição delinquente de abusar mulheres, no Brasil. Pesquisas baseadas em sistema de indicadores de percepção têm por objeto um conjunto necessariamente vago e confuso de crenças, desejos, conhecimentos mais ou menos refletidos e quase nunca científicos; a percepção é um pântano, algo necessariamente obscuro. Valem como uma fotografia borrada. Ainda assim, a pesquisa tem questões muito claras e respostas, idem.

    Para a maioria dos brasileiros, se usamos decote é porque merecemos ser violadas. Para a maioria dos brasileiros, e isto é mais grave, também devemos obedecer aos machos, dentro de casa. Como toda sociedade é, por definição, entre outras possíveis, um balaio de crenças contraditórias e calamitosas entre si, a maioria defende que o marido abusador deve ser punido. A tolerância com o abuso é que se destaca: que tipo seria o caso, para merecer a denúncia numa delegacia, já que a maior parte acha que os conflitos conjugais devem ser resolvidos dentro de casa? Ora...
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    quinta-feira, março 13, 2014

    Tentando conhecer Freud













    O homem é dono do que cala
    e escravo do que fala. Quando
    Pedro me fala sobre Paulo, sei
    mais de Pedro que de Paulo...
     
    Sigmund Freud (1856–1939)



    Há mais de um século o gênio fascinante e por vezes contraditório do doutor Sigmund Freud sempre esteve em foco para outros pesquisadores e para os “leitores comuns”. O que não faltam são livros – os publicados pelo próprio Freud e centenas de outros, que relatam da biografia à correspondência do pai da Psicanálise, incluindo aqueles que se dedicam a aspectos incomuns na vida e obra do biografado ou mesmo os que recriam, em forma de ficção, momentos na trajetória do mestre. Dos muitos títulos sobre Freud das safras recentes nas livrarias, alguns são documentos preciosos sobre os ensinamentos do mestre na intimidade e na vida cotidiana.

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    quinta-feira, fevereiro 27, 2014

    Neurocientistas confirmam que teoria de Freud está correta



                
         Sigmund Freud: ciência comprava teoria de histeria do psicanalista. (Divulgação).


    "Os pacientes apresentaram diferenças na atividade cerebral quando tiveram lembranças traumáticas comparados com voluntários saudáveis em um estudo publicado na edição da revista JAMA Psychiatry do mês passado. Além de apoiar a teoria de Freud e ajudar a explicar uma das reclamações mais comuns ouvidas pelos neurologistas, a pesquisa poderia criar novas abordagens de tratamento para os pacientes cujos sintomas costumavam ser menosprezados pelos doutores no passado.
    “Trata-se do primeiro artigo de que eu sou ciente que realmente mostra que eventos traumáticos prévios definitivamente podem desencadear esse tipo de resposta motora”, disse John Speed, professor de medicina e reabilitação física na Universidade de Utah em Salt Lake City, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso é muito estimulante”.
    A pesquisa é uma das mais recentes que demonstram como..."

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    domingo, fevereiro 23, 2014

    Freud e os escritores. De Sófocles à Stefan Zweig






    Um livro que analisa as relações de Freud com a literatura. 
    Escrito por Pontalis e Mango.
    Não a quatro mãos, cada um assina seu capítulo.
    Vale a pena conferir.
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