quarta-feira, agosto 06, 2014



TRIUNFA A PULSÃO DE MORTE


M. Bernadette S. de S. Pitteri



Texto  daqui


O mundo acompanha boquiaberto, com ar de dejà vu, a intensificação do conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza, repetição ad nauseam da mesma história, desde a saída dos britânicos da região. A atual espiral de violência desencadeou-se após o sequestro de três jovens judeus na Cisjordânia, num ataque atribuído ao Hamas (grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza), e logo depois de um jovem palestino ser queimado por extremistas judeus. O barril de pólvora voltou a explodir e cruzaram os céus da Faixa de Gaza os foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel, sem que jamais tenham cessado ofensivas terrestres, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos (intifadas).

Motivos históricos, religiosos, políticos, materiais, levam israelenses e palestinos a disputarem a soberania da região. Há desacordo quanto à divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como estado independente.

Confrontos entre árabes e israelenses são ancestrais, mas os embates entre esses povos de mesma origem étnica, recrudesceram no final do século XIX, quando o movimento sionista e o nacionalismo árabe começaram a ganhar forma. Seria simplista falar de guerra religiosa ou de ódio entre árabes e judeus, mas nada simplista é a pulsão de morte que reina soberana.

A grave situação da Palestina hoje, particularmente na Faixa de Gaza, enraíza-se nos estertores do Império Otomano e no posterior e desastroso mandato britânico na região. Com a queda do Império Otomano, a Inglaterra transforma a região em colônia britânica, institui um protetorado (apoio dado por uma nação a outra menos poderosa) na região pleiteada por palestinos e israelenses.

Com o início da Segunda Guerra Mundial e a perseguição dos nazistas aos judeus, os problemas se agravaram; os judeus queriam fixar-se na Palestina, há muito território árabe.

Com os confrontos entre árabes e judeus, iniciaram-se discussões sobre formas de solucionar a questão. Em 1947, antes da saída dos britânicos, a Organização das Nações Unidas (ONU) dividiu o território, parte para judeus, parte para árabes. A insatisfação em torno desse mapa gerou uma guerra civil. Com a saída dos britânicos em 1948, países árabes vizinhos tentaram invadir Israel, mas ao final do conflito, os israelenses mantiveram seu território e os palestinos ficaram impossibilitados de criar seu próprio estado. Em 1967, a Guerra dos Seis Dias entre Israel e as nações vizinhas, resultou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, incluindo a parte oriental de Jerusalém.

A guerra de 1967 parece ser o núcleo da problemática mais recente, dificultando a solução: pelas fronteiras de 67, Jerusalém oriental deveria pertencer aos palestinos, que a querem como capital, e a população de Israel está a ter Jerusalém como capital. Não há solução simples, se ambos querem o mesmo e de nada abrem mão.
O recrudescimento do racismo, já apontado por Lacan no Seminário 19, parece ter grande parte no conflito e Freud já apontava para o fato da impotência de argumentos lógicos diante dos interesses afetivos, o que deixa espaço ao reinado da pulsão de morte e explica em parte o fracasso das constantes investidas diplomáticas na região.

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