quinta-feira, junho 26, 2008

Elisabeth Badinter






A invenção do instinto materno

Em Rumo equivocado, a feminista francesa Elisabeth Badinter polemiza com colegas americanas sobre os rumos do movimento

POR MÔNICA CRISTINA CORRÊA


As reflexões da autora partem principalmente do século XVIII. Badinter nota que, naquele momento, surgia uma nova preocupação com a criança e o adolescente, já que temas como a educação entram na ordem do dia. Até então, a criança era considerada quase como "animal" a ser adestrado. À época, foram escritas obras sobre formas de educar, como a de Jean-Jacques Rousseau, Émile ou de l'éducation, constituída de cinco volumes; e no período revolucionário, o trabalho do filósofo marquês de Condorcet (1743-1794), que, entre outras coisas, discutia a necessidade de uma educação popular e da igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Foi a partir do século XIX que as formas do amor materno, tais como são conhecidas atualmente, despontaram. Nesse século, as mulheres passam a viver cada vez mais encerradas em seus papéis de progenitoras: gestação, parto e amamentação resumem sua existência, sem deixar-lhes alternativas ou espaço para outras aspirações. O valor dos cuidados maternos ganha nova dimensão em detrimento da liberdade da mulher.

Baseada em pesquisas sobre o século XVIII, Elisabeth Badinter escreveu Emilie Emilie. O título alude à obra de Rousseau, cujo conteúdo, não obstante, não coloca mulheres em pé de igualdade com os rapazes. O livro de Badinter, numa espécie de resposta à lacuna rousseauniana, propõe analisar a questão da ambição feminina a partir do perfil de duas figuras relevantes no século das luzes, respectivamente madame du Chatelêt, amante de Voltaire, e madame D'Épinay, amiga de Rousseau. Ambas eram "Émilie" (Gabrielle Émilie e Louise Émilie) dotadas de biografias em que a ambição e a independência são marcas essenciais. Isso fez com que escapassem à categoria simplista de donas-de-casa, esposas e mães. Embora as duas grandes damas tivessem passado por essas experiências, puderam, pelo sofrimento, concluir o que os homens - segundo a autora - sempre souberam: que nada é mais importante do que a individualidade. Entre outras questões, vem à tona a idéia de que, talvez, nem todas as mulheres tenham espontaneamente o desejo de ser mães.

Essa discussão, de fato, permeia toda a obra de Elisabeth Badinter. Para ela, a mulher deve sempre perguntar-se sobre se realmente quer ser mãe e em quais condições. Hoje em dia, o problema da maternidade estaria, segundo pensa, mais ligado à divisão dos trabalhos domésticos com o homem. Esse é um dos temas de Rumo equivocado, em que escreve: "Deduzindo-se o feminino da capacidade materna, define-se a mulher pelo que ela é e não pelo que escolhe ser. E não há definição simétrica do homem, sempre apreendido pelo que faz e não pelo que é". Mas além disso, o livro trata o feminismo com severas ressalvas. As pesquisas que levaram a autora a tal refutação são recentes estudos americanos e franceses. Badinter fala, por exemplo, de uma "violência contra os homens" cometida por mulheres, e cita a agressão física delas contra eles. "A mulher atualmente apresentada às jovens gerações é como uma criança a ser protegida, incapaz de se defender. Ora, a imagem que o feminismo original deveria dar das mulheres é de conquistadora, forte", afirma. "Esse tema foi muito abandonado." E não hesita em apontar as origens desse discurso, a seu ver, falacioso: "Isso veio dos anos 80 e 90, quando as feministas radicais americanas começaram a abordar coisas inacreditáveis".

Apesar de ser chamada de antifeminista, a autora permanece coerente com suas idéias de igualdade de direitos entre os sexos. Se antes julgara que o amor paterno é algo à altura do materno, é natural que se preocupe também com o papel masculino em vez de fazer a defesa cega das premissas feministas.

Amores silenciosos- Contardo Calligaris





Amores silenciosos




CONTARDO CALLIGARIS


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A gente se declara apaixonado porque está apaixonado ou pelo prazer de se apaixonar?
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FAZER E RECEBER declarações de amor é quase sempre prazeroso. O mesmo vale, aliás, para todos os sentimentos: mesmo quando dizemos a alguém, olho no olho, "Eu te odeio", o medo da brutalidade de nossas palavras não exclui uma forma selvagem de prazer.
De fato, há um prazer na própria intensidade dos sentimentos; por isso, desconfio um pouco das palavras com as quais os manifestamos. Tomando o exemplo do amor, nunca sei se a gente se declara apaixonado porque, de fato, ama ou, então, diz que está apaixonado pelo prazer de se apaixonar.
Simplificando, há duas grandes categorias de expressões: constatativas e performativas.
Se digo "Está chovendo", a frase pode ser verdadeira se estamos num dia de chuva ou falsa se faz sol; de qualquer forma, mentindo ou não, é uma frase que descreve, constata um fato que não depende dela.
Se digo "Eu declaro a guerra", minha declaração será legítima se eu for imperador ou será um capricho da imaginação se eu for simples cidadão; de qualquer forma, capricho ou não, é uma frase que não constata, mas produz (ou quer produzir) um fato. Se eu tiver a autoridade necessária, a guerra estará declarada porque eu disse que declarei a guerra. Minha "performance" discursiva é o próprio acontecimento do qual se trata (a declaração de guerra).
Pois bem, nunca sei se as declarações de amor são constatativas ("Digo que amo porque constato que amo") ou performativas ("Aca- bo amando à força de dizer que amo"). E isso se aplica à maioria dos sentimentos.
Recentemente, uma jovem, por quem tenho estima e carinho, confiava-me sua dor pela separação que ela estava vivendo. Ao escutá-la, eu pensava que expressar seus sentimentos devia ser, para ela, um alívio, mas que, de uma certa forma, seria melhor se ela não falasse. Por quê?
Justamente, era como se a falta do namorado (de quem ela tinha se separado por várias e boas razões), a sensação de perda etc. fossem intensificadas por suas palavras, e talvez mais que intensificadas: produzidas.
É uma experiência comum: externamos nossos sentimentos para vivê-los mais intensamente -para encontrar as lágrimas que, sem isso, não jorrariam ou a alegria que talvez, sem isso, fosse menor. Nada contra: sou a favor da intensidade das experiências, mesmo das dolorosas. Mas há dois problemas.
O primeiro é que o entusiasmo com o qual expressamos nossos sentimentos pode simplificá-los. Ao declarar meu amor, por exemplo, esqueço conflitos e nuances. No entusiasmo do "te amo", deixo de lado complementos incômodos ("Te amo, assim como amo outras e outros" ou "Te amo, aqui, agora, só sob este céu") e adversativas que atrapalhariam a declaração com o peso do passado ou a urgência de sonhos nos quais o amor que declaro não se enquadra.
O segundo problema é que nossa verborragia amorosa atropela o outro. A complexidade de seus sentimentos se perde na simplificação dos nossos, e sua resposta ("Também te amo"), de repente, não vale mais nada ("Eu disse primeiro").
Por isso, no fundo, meu ideal de relação amorosa é silencioso, contido, pudico.
Para contrabalançar os romances e filmes em que o amor triunfa ao ser dito e redito, como um performativo que inventa e força o sentimento, sugiro dois extraordinários romances breves, de Alessandro Baricco, o escritor italiano que estará na Festa Literária Internacional de Parati, na próxima semana: "Seda" e "Sem Sangue" (ambos Companhia das Letras).
Nos dois, a intensidade do amor se impõe com uma extrema economia de palavras ("Sem Sangue") ou sem palavra nenhuma ("Seda"). Nos dois, o silêncio permite que o amor vingue -apesar de ele não poder ser dito ou talvez por isso mesmo.
No caso de "Seda": te amo em silêncio porque te encontro ao limite extremo de uma viagem ao fim do mundo, indissociavelmente ligada a um outro, e nem sei falar tua língua.
Você me ama em silêncio porque sou outro: uma aparição efêmera, uma ave migrante.
No caso de "Sem Sangue": te amo, e não há como falar disso porque te dei e te tirei a vida. E você me ama pelas mesmas razões pelas quais poderia e deveria querer me matar (os leitores entenderão).
Nos dois romances, a ausência da fala amorosa acaba sendo um presente que os amantes se fazem reciprocamente, uma forma extrema (e freqüentemente perdida) de respeito pela complexidade de nossos sentimentos e dos sentimentos do outro que amamos.

segunda-feira, junho 16, 2008

Como você se comporta no elevador?




Psicologia de elevad
or

O meio de transporte, tão comum nas grandes cidades, nos obriga a dividir nosso espaço vital com estranhos e coloca à prova a capacidade de comunicação

por Massimo Barberi

"O elevador é o meio de transporte mais usado nas grandes cidades. Só em São Paulo estima-se que existam mais de 270 mil unidades. E cerca de 8 mil novos são instalados a cada ano no Brasil. A caixa metálica iluminada, com painel de botões e, em alguns casos, um espelho, proporciona o deslocamento vertical de forma muito simples e eficaz – e também explicita modos de interagir. Há os que se sentem donos da situação, justamente porque se encontram em uma área restrita. Outros experimentam o desconforto de compartilhar o espaço vital, tão exíguo, com desconhecidos e, intimidados, torcem para chegar logo ao andar de destino. Existem ainda aqueles que usam o local para jogos sexuais O fato é que cada um de nós tem uma forma de enfrentar o elevador. Com exceção, obviamente, dos que sofrem de claustrofobia e preferem a escada.

Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2001, foram usadas câmeras de vigilância em 15 edifícios públicos. A idéia era identificar e quantificar comportamentos típicos adotados no meio de transporte, a começar pela posição escolhida no interior da cabine. A posição preferida por 47% das pessoas, quase dois terços das quais do sexo masculino, é aquela próxima à parede oposta à porta, ou..."


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terça-feira, junho 10, 2008

Festa Literária de Parati




Literatura

COMEÇA VENDA DE INGRESSOS PARA A FLIP

A Festa Literária de Parati começa a vender hoje ingressos para sua sexta edição, de 2 a 6 de julho, pelo site www.ingressorapido.com.br. As entradas custam R$ 8 (Tenda do Telão) e R$ 25 (Tenda dos Autores e show de abertura), mais taxas. Mais informações pelo tel. 0/xx/ 11/4003-1212 ou www.flip.org.br. Para cada evento, há limite de dois ingressos por pessoa.