domingo, agosto 29, 2010

A autoestima no mundo atual II





Leia aqui a primeira parte desta palestra.


O que é, realmente, relevante?

Todos temos um ideal que seguimos, mesmo sem ter consciência. Muitas vezes este ideal é herdado dos nossos pais, então nos sentimos exigidos e precisamos corresponder à expectativa desses pais introjetados, dos pais que registramos dentro de nós.

Imaginamos que só seremos amados pelos nossos pais se formos exatamente como eles desejariam que fossemos- é um sentimento infantil que nos persegue, muitas vezes sem que saibamos.

Muitos de nós nos sentimos longe daquilo que esperávamos ou desejávamos ser.

É preciso reconhecer qual é esta expectativa, e identificar se é um desejo nosso, conquistado, ou é algo “herdado” de pais exigentes- mesmo que na realidade eles não tenham sido o que acreditamos..

A vida é construída por desejos insatisfeitos, somos movidos pelo desejo, para viver bem é preciso estar em paz com si mesmo e isto exige conhecimento, sabedoria.

Você só estará bem consigo se conhecer os seus limites e priorizar aquilo que é importante, fundamental, para seu bem estar. O mundo é uma grande feira de ofertas de sonhos impossíveis, precisamos priorizar o que poderemos alcançar, sem nunca deixar de sonhar- o desejo é a mola que nos impulsiona.

Priorizar é fundamental, no momento em que você prioriza, as satisfações começam a ser percebidas. Você passa a ver as pequenas coisas boas da vida e verá que são muitas. Pequenos prazeres serão descobertos, e você, então, buscará estes prazeres para se sentir feliz. A felicidade está, sim, como todos dizem, em pequenas coisas, pequenos gestos, isto faz o nosso dia à dia melhor.

Muitas vezes é preciso mudar nossos hábitos.

Sempre há tempo para mudanças, viver é estar em constante mutação.

Por que é tão difícil mudar?

Todos nós sabemos que abandonamos muitos projetos no meio do caminho, arranjamos mil desculpas, doenças, algumas vezes, mas por que se desejamos mudar?
Porque esperamos mudanças magicamente, como as crianças, temos pressa , não levamos os projetos até o fim e ficamos infelizes.
Criamos uma bola de neve, sentimos tristeza pela incapacidade de mudar e isto nos paralisa, nos deprime- sentimos impotência diante da vida e dos outros.
Quantas vezes há um desejo de mudar, mas não se consegue fazer nada para isto?
A mudança assusta, vivenciar o que nos é familiar é mais cômodo, apesar de muitas vezes doloroso, o ciclo vicioso se fecha e é difícil romper. Mudar não é fácil .

Mais sobre o corpo

Ter prazer com o corpo que você tem, não ter vergonha do próprio corpo é uma dádiva, ou é algo que é preciso conquistar. O que fazer para que este corpo esteja confortável, sem estar pesado, feio, com dores? Como olhar o corpo e sentir que é desejável? Como viver em harmonia com o corpo?

Atualmente, há uma exigência enorme, que chamamos de ditadura da estética, quanto ao corpo perfeito. É preciso estar em forma e ter corpos perfeitos. Isto é uma ditadura imposta pela mídia! Há uma filosofia de vida que se alastra há algumas décadas tornando as mulheres as principais vitimas deste padrão imposto.
Homens começam a ser vítimas também, mas com a s mulheres a mídia é cruel.

Colocam silicone nos seios, tiram gorduras do corpo, sem dietas, através de cirurgias, tiram costelas para diminuir a cintura, arriscam-se com anestesias buscando um ideal inalcançável.

Como virar uma Gisele Bündchen? Impossível. As meninas têm a Gisele como padrão idealizado de beleza e de vida, pois ela é O Sucesso, linda, rica, bem casada, agora mãe- é o sonho de todas as jovens. Débora Secco disse numa entrevista para Marília Gabriela, que se deitava de bruços na cama para que ele o namorado não visse a sua barriga. Pensamos, mas que barriga? Ela ilustra bem o nível de exigência interno destas moças, ficam anoréxicas ou bulímicas. É um mundo idealizado que as tortura. Inalcançável. A vida gira em torno do corpo, não há vida além do corpo, as relações permeiam o corpo, tudo é o corpo. Farão plásticas a vida toda.

Como será a velhice destas moças?

O que elas buscam?

Sabemos que atrás desta busca do corpo perfeito está o desejo de ser desejada e admirada por todos, provavelmente um reconhecimento que faltou lá atrás, na infância: um olhar materno ou paterno de aceitação e amor, de reconhecimento. Elas ignoram que este olhar não virá mais, que poderão ser amadas por outras pessoas e que o desejo humano passa por outros caminhos, senão os feios estariam todos sós, abandonados, e isto não é verdade. O nosso desejo passa por caminhos do inconsciente, nós não sabemos por que desejamos uma pessoa e não outra.

É preciso desconstruir este padrão imposto. Há um movimento natural contra isto, sabemos que a meditação, a Yoga, por exemplo, vêm despertando o interesse de cada vez mais pessoas. Madonna é um exemplo de celebridade adepta de Yoga, e vem sendo imitada. Mesmo que façam porque está na moda, é bom. Todas as práticas espiritualistas melhoram a vida interior, dando equilíbrio entre corpo e mente. Nem tudo está perdido.

É preciso acabar com os preconceitos, tolerar as diferenças, não só raciais, de gênero, mas as estéticas também, os gordos, os diferentes, sofrem preconceitos e exclusão.
Violência na vida urbana mais tirania do corpo e preconceitos torna a vida intolerável. Em algum momento terá que haver um basta.

Esta é uma questão para pensarmos. Cada um precisa fazer a sua parte.

Nenhum caminho é fácil, viver não é fácil, é preciso enfrentar os obstáculos, muitas vezes internos.

E quantos de nós não se boicotam? É preciso viver da melhor maneira possível, sem dramas nem omissões, fazendo o melhor, conscientes das nossas dificuldades, limites, e também, reconhecendo nossos talentos.

Precisamos saber o que nos detém, nos impede de seguir um projeto, nos paralisa, nos ata. É preciso desatar os nós e mudar aquilo que nos incomoda. Mesmo que isto implique num investimento maior, numa mudança na vida pessoal, é preciso escolher entre viver com as insatisfações ou reagir e mudar.

Quantos de nós temos talentos escondidos, não valorizados?

Mas, sabemos, todos procuramos formas para evitar a morte, e envelhecer é se aproximar da velha senhora, que vive à nossa espreita.

Renovar é possível, mudar é possível. Basta desejar!

Boa sorte!

sexta-feira, agosto 27, 2010

Um filme imperdível



Uma beleza este filme "O ESCAFANDRO E A BORBOLETA". Atores e história comoventes. Max Von Sydow ( aquele dos filmes do Ingmar Bergman) me levou às lágrimas.
Uma história de amor e superação. Muito bonita.

Leiam:
A extraordinária história real de Jean-Dominique Bauby, editor da revista ELLE que, aos 43 anos, sofreu um derrame que paralisou todo seu corpo, com exceção do seu olho esquerdo. Preso em um corpo sem movimento, mas completamente lúcido, ele se adapta para contar sua incrível história de vida.

VENCEDOR de 2 prêmios no Festival de CANNES 2007: Julian Schnabel, Melhor DIRETOR - Janusz Kaminski, Technical Grand Prize

Vencedor Globo de Ouro 2008: Melhor Diretor (Julian Schnabel) e Melhor Filme Estrangeiro

Com Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Max von Sydow

Direção Julian Schnabel

quinta-feira, agosto 26, 2010

Contardo Calligaris- Para que serve a psicanálise?



A quem luta para se manter adulto, o paternalismo dá calafrios, ou mesmo vontade de sair atirando

A Associação Internacional de Psicanálise (IPA) foi fundada em 1910. Presente em 33 países, com mais de 12 mil membros, ela festeja seu centésimo aniversário. Aos colegas da IPA (embora eu tenha me formado numa de suas dissidências), meus sinceros parabéns.
A festa é uma boa ocasião para perguntar: para que serve, hoje, a psicanálise? A campanha eleitoral em curso me ajuda a escolher uma resposta.
Repetidamente, o presidente Lula e Dilma Rousseff se apresentam como pai e mãe dos brasileiros. Em 17/8, Lula declarou: "A palavra não é governar, a palavra é cuidar: quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo, como a mãe cuida de seu filho".
No dia seguinte, Marina Silva comentou: "Querem infantilizar o Brasil com essa história de pai e mãe". Várias vozes (por exemplo, o editorial da Folha de 19/8) manifestaram um mal-estar; Gilberto Dimenstein resumiu perfeitamente: "Trazer a lógica familiar para a política significa colocar a criança recebendo a proteção de um pai em vez de um governante atendendo a um cidadão que paga imposto".
Entendo que um presidente ou uma candidata se apresentem como pai ou mãe do povo. Embora haja precedentes péssimos (de Vargas a Stálin, ao ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il), estou mais que disposto a acreditar que Lula e Dilma se expressem dessa forma com as melhores intenções.
O que me choca é que eleitores possam ser seduzidos pela ideia de serem cuidados como crianças e preferi-la à de serem governados como adultos.
Se o governo for paternal ou maternal, o que o cidadão espera nunca será exigível, mas sempre outorgado como um presente concedido por generosidade amorosa; o vínculo entre cidadão e governo se parecerá com o tragipastelão afetivo da vida de família: dívidas impagáveis, culpas, ciúme passional etc. Alguém gosta disso?
Numa psicanálise, descobre-se que a vida adulta é sempre menos adulta do que parece: ela é pilotada por restos e rastos da infância. Ao longo da cura, espera-se que essa descoberta nos liberte e nos permita, por exemplo, renunciar à tutela dos pais e ao prazer (duvidoso) de encarnarmos para sempre a criança "maravilhosa" com a qual eles sonhavam e talvez ainda sonhem.
Tornar-se adulto (por uma psicanálise ou não) é um processo árduo e sempre inacabado. Por isso mesmo, a quem luta para se manter adulto, qualquer paternalismo dá calafrios -ou vontade de sair atirando, como Roberto Zucco.
Roberto Succo (com "s"), veneziano, em 1981, matou a mãe e o pai; logo, fugiu do manicômio onde fora internado e, durante anos, matou, estuprou e sequestrou pela Europa afora. Em 1989, Bernard-Marie Koltès inspirou-se na história de Succo para escrever "Roberto Zucco", peça admiravelmente encenada, hoje, em São Paulo, na praça Roosevelt, pelos Satyros.
Na peça, Zucco perpetra realmente aqueles crimes que todos perpetramos simbolicamente, para nos tornarmos adultos: "matar" o pai, a mãe e, dentro de nós, a criança que devemos deixar de ser.
O diretor da peça, Rodolfo García Vázquez, disse que Zucco é um Hamlet moderno. Claro, para Hamlet, como para Zucco, o parricídio é uma espécie de provação no caminho que leva à "maioridade". Além disso, pai, padrasto e mãe de Hamlet eram reis, e o pai de Succo era policial. Para ambos, o Estado se confundia com a família.
Se o Estado é um pai ou uma mãe para mim, eu não tenho deveres, só dívidas amorosas, e, se esse Estado me desrespeita, é que ele me rejeita, que ele trai meu amor. Por esse caminho, amado ou traído pelo Estado, nunca me considerarei como um entre outros (o que é uma condição básica da vida em sociedade), mas sempre como a menina dos olhos do poder.
Agora, se eu me sentir traído, não me contentarei em mudar meu voto, mas procurarei vingança no corpo a corpo, quem sabe arma na mão; pois essa é a linguagem da paixão e de suas decepções. O paternalismo, em suma, semeia violência.
Enfim, se é verdade que muitos prefeririam ser objeto de cuidados maternos ou paternos a serem "friamente" governados, pois bem, nesse caso, a psicanálise ainda tem várias boas décadas de utilidade pública entre nós.
É uma boa notícia para a psicanálise. Não é uma boa notícia para o mundo fora dos consultórios.

Artigo da Folha de São Paulo

quinta-feira, agosto 12, 2010

Contardo Calligaris: A origem



"A Origem"

Vagamos pelo mundo esbarrando em nossas projeções: assombrações do passado e do desejo


Sabia pela imprensa que, no novo filme de Christopher Nolan, "A Origem", os heróis (ou vilões, que sejam) invadem o mundo onírico de alguém, transformam, ou mesmo fabricam seu sonho e, com isso, manipulam o próprio sonhador.
Confesso que fui ao cinema com um certo preconceito. A pintura (Salvador Dalí, De Chirico), a literatura (Breton) e o cinema (de Fritz Lang a Hitchcock) inventaram uma estética do sonho que é sedutora, mas não tem muito a ver com nossa experiência de sonhadores.
Com isso, eu antevia um filme pouco plausível, laborioso e afastado do meu cotidiano. Surpresa total: o mundo do filme de Nolan me pareceu familiar e absolutamente realista. Só que não foi pela representação do mundo dos sonhos. Ao contrário, "A Origem", para mim, é fiel à realidade na qual vivemos quando NÃO estamos sonhando.
Salvo exceções, exatamente como os personagens de Nolan quando sonham, vagamos pelo mundo aparentemente acordados, mas suficientemente sedados para que possamos esbarrar apenas em nossas próprias projeções: fantasmas do passado, alucinações do desejo e defesas -espécie de seguranças armados que deveriam nos proteger (vai saber de quê) e acabam se virando sempre contra nós mesmos.
Assisti ao filme no cinema Leblon, no Rio de Janeiro, no sábado à tarde. Depois da sessão, voltei a pé até o Arpoador.
Ao longo da Vieira Souto, caminhei na fantasmagoria de um Carnaval do passado, que começara, justamente, com uma saída da Banda de Ipanema e em que tudo dera errado. Os fantasmas riam de mim: se eu os tivesse enxergado à época, teria previsto um fracasso amoroso que, dez anos depois, foi doloroso sobretudo por ser tardio.
No Arpoador, apesar do frio, havia um menino brincando nas ondas; achei que ele corresse perigo, levado pela ressaca. Um jovem avançou no mar para trazê-lo de volta para a praia.
Nos anos 80, três vezes por ano, eu ia de Porto Alegre ao Rio para acompanhar meu filho até o avião que o levaria de volta para a França, onde ele morava com a mãe. Era o fim de suas férias e o momento em que a gente ia se separar, de novo. Chegávamos ao Galeão ao meio-dia e corríamos de táxi até Ipanema para mergulharmos no mar antes de ele embarcar. Pois é, no sábado passado, cruzei o olhar do menino que voltava das ondas: era um olhar de crítica e decepção por eu deixá-lo viajar para longe de mim ou por eu ter viajado para longe dele -era o olhar de meu filho.
Do Leblon ao Arpoador, passei por vários níveis do videogame de minha vida e, embora houvesse gente nas ruas, no fundo, não encontrei ninguém de verdade, só assombrações.
Há mais uma razão pela qual o mundo de "A Origem" me pareceu curiosamente familiar. Disse que, no filme, os heróis acompanham alguém num passeio pelo seu mundo psíquico e, nessa andança, eles extraem e inserem pensamentos. É muito diferente do trabalho de um psicoterapeuta ou psicanalista?
Sem revelar nada que atrapalhe o prazer dos futuros espectadores:
1) Para sair um pouco da assombração, é bom matar alguns fantasmas (o de um antigo amor que nos pede, por exemplo, para morrer com ele, ou o de um pai cujas últimas palavras continuam vivas como uma maldição). Suicidar nosso narcisismo também nos ajuda a voltar para a realidade. Mas é bom não confundir o suicídio de nosso narcisismo com o suicídio de nossa pessoa.
2) No fim do filme, a vítima de nossos heróis descobre algo que muda seu futuro de maneira positiva -qualquer terapeuta concordaria. Essa "verdade" foi plantada por nossos heróis, os quais também arquitetaram o lugar escondido e proibido onde a vítima encontra seu "segredo" (o que faz, obviamente, que ela aceite e preze essa "descoberta", que é, de fato, um engodo).
Qualquer psicanalista ou psicoterapeuta dirá que, numa cura, ele pode extrair pensamentos nocivos e desnecessários, mas ele nunca inseriria nada; isso seria sugestão, coisa de padre e pastor.
Concordo, mas, saindo do cinema, pensei: e se, como os heróis de Nolan, a gente estivesse praticando a arte insidiosa (e, às vezes, benéfica) de plantar no paciente nossas ideias transvestidas de segredos? Foucault adoraria essa dúvida.
Só me resta desejar a todos um bom filme.

Trailer do filme:

quinta-feira, agosto 05, 2010

Roland Barthes in #bookday

Contardo Calligaris- Castigos físicos



O castigo físico acaba com a autoridade de quem castiga, pois revela que seu argumento é a força

Uma recente pesquisa Datafolha (Folha, 26/7) mostra que, no Brasil, 69% das mães e 44% dos pais admitem ter batido nos filhos.
Parêntese. Os pais são tão violentos quanto as mães: simplesmente, eles passam menos tempo em casa e lidam menos com o "adestramento" dos filhos.
A pesquisa constata também que 72% dos adultos sofreram castigos físicos quando crianças. Como se explica, então, o fato de que 54% dos brasileiros se declaram contrários ao projeto de lei que proíbe os castigos físicos em crianças? Há várias hipóteses possíveis.
1) Talvez quem apanhou quando criança não queira perder o direito de se vingar em cima dos filhos.
2) Talvez não aceitemos a ideia de que os nossos pais tinham sobre nós uma autoridade maior do que a que nós temos ou teremos sobre nossos filhos.
3) Na mesma linha, talvez estejamos dispostos a apanhar dos superiores sob a condição de sermos autorizados a bater nos subalternos.
Nota: aceitar apanhar dos mais poderosos para poder bater nos mais fracos é a caraterística que resume a personalidade burocrático-autoritária do funcionário fascista.
4) A autoridade, dizem alguns com razão, sempre tem um pé na coação e recorre à força quando seu prestígio não for suficiente para ela se impor. Hoje, a autoridade simbólica dos adultos é cada vez menor. É provável que os próprios adultos sejam responsáveis por isso (principalmente, por eles se comportarem cada vez mais como crianças); tanto faz, o que importa é que o prestígio dos adultos não lhes garante mais respeito e obediência. Portanto, a palavra aos tabefes.
É um erro: o castigo físico acaba com a autoridade de quem castiga, pois revela que seu argumento é apenas a força. A reação mais sensata da criança será: tente de novo quando eu estiver com 15 anos e 1,80 m de altura.
Esses e outros argumentos a favor da palmatória não encontram minha simpatia. Até porque verifico que os rastos desses castigos não são bonitos. Mesmo um simples tapa é facilmente traumático tanto para o pai que bateu como para o filho: ele paira na memória de ambos como uma traição amorosa que não pode ser falada por ser demasiado humilhante (para os dois). Há pais violentos que passam a vida na culpa, e há crianças cuja vida erótica adulta será organizada pela tentativa de encontrar algum sinal de amor no sadismo dos pais.
Apesar disso, se tivesse sido consultado na pesquisa, provavelmente eu teria me declarado contra a nova lei, por duas razões.
A primeira (e menos relevante) é que existem violências contra crianças piores do que a violência física, e receio que uma lei reprimindo o castigo físico nos leve a pensar que, por assim dizer, "o que não bate engorda". Infelizmente, não é preciso bater para trucidar uma criança.
A segunda razão (e mais relevante) é que a nova lei não surge num contexto em que os pais teriam poder absoluto sobre o corpo dos filhos. Mesmo sem a nova lei, o professor que visse sinais de violência no corpo de um dos alunos avisaria à polícia e à autoridade judiciária. O mesmo valeria para o pediatra ou para o psicoterapeuta. Inversamente, um pai cujo filho fosse batido na escola processaria o professor e a instituição. Também, com um pouco de sorte, uma criança batida pode denunciar o adulto que a abusa.
Pergunta: para que servem leis que pouco mudam o quadro legal e só explicitam e particularizam proibições que já vigem de modo geral?
Essas leis me parecem ter sobretudo a intenção de afirmar, demonstrar e estender o poder do Estado na vida dos cidadãos.
Uma coisa aprendi com Michel Foucault: o poder moderno é raramente extravagante em suas exigências. Como ele não tem conteúdo específico, mas gosta apenas de se expandir, ele escolhe o caminho mais fácil, conquistando a adesão "espontânea" de seus sujeitos. Como? Simples: operando "obviamente" "pelo bem dos cidadãos" -no caso, pelo bem das crianças.
Resumindo:
1) sou absolutamente contra qualquer castigo físico; 2) sou também contra a extensão do poder do Estado no campo da vida privada, por temperamento anárquico e porque sou convencido que, neste campo, as famílias erram muito, mas o Estado, quase sempre, erra mais.

PS: Destaques meus.(Elianne)

Artigo de hoje na Folha de São Paulo.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Eu te odeio- eu te amo




Esta imagem ilustra muito bem  a 'Denegaçaõ' da psicanálise. Leiam (não achei em português) :



Negación


Al.: Verneinung.
Fr.: (dé)négation.
Ing.: negation.
It.: negazione.
Por.: negação.


Procedimiento en virtud del cual el sujeto, a pesar de formular uno de sus deseos, pensamientos
o sentimientos hasta entonces reprimidos, sigue defendiéndose negando que le pertenezca.
Esta palabra requiere ante todo algunas observaciones de orden terminológico.
1) En la conciencia lingüística común, no siempre existen en todos los idiomas claras distinciones
entre los términos que significan la acción de negar, y menos aún existen correspondencias
bi-unívocas entre los distintos términos de una lengua a otra.
En alemán, Verneinung designa la negation en el sentido lógico o gramatical del término (no
existe un verbo neinen o beneinen), pero también la denegation en sentido psicológico (rechazo
de una afirmación que yo he enunciado o que se me atribuye; por ejemplo: no, yo no he dicho
esto; yo no he pensado esto). Verleugnen (o leugnen) tiene un sentido que se aproxima al de
verneinen en esta última acepción: renegar, desdecir, desmentir.
En francés, puede distinguirse, por una parte, la negación (négation) en sentido gramatical o
lógico, y por otra parte la denegación (dénégation, déni), que implica oposición o repulsa.
2) En el empleo que hace Freud: al parecer podemos distinguir dos usos diferentes de verneinen
y verleugnen. En efecto, la palabra verleugnen tiende a reservarla Freud, hacia el fin de su obra,
para designar el rechazo de la percepción de un hecho que se impone en el mundo exterior; en
inglés, los editores de la Standard Edition, que han reconocido el sentido específico que
adquiere en Freud la palabra Verleugnung, han decidido traducirla por disavowal. Nosotros
proponemos en francés traducirla por «déni» (renegación)
En cuanto al empleo que hace Freud de la palabra Verneinung, resulta inevitable para el lector
francés la ambigüedad negation-denegation. Posiblemente esta misma ambigüedad sea uno de
los ejes de la riqueza del artículo que Freud dedicó a la Verneinung. Al traductor, le resulta
imposible en cada pasaje elegir entre «negation» o «denegation»; como solución nosotros
proponemos transcribir la Verneinung por «(dé)négation». En castellano utilizaremos negación.
Observemos que también se encuentra algunas veces en las obras de Freud la palabra alemana
de origen latino Negation.
Estas distinciones terminológicas y conceptuales que proponemos no siempre se han efectuado
hasta ahora en la literatura psicoanalítica y en las traducciones. Así, el traductor francés de El
Yo y los mecanismos de defensa (Das Ich und die Abwehrmechanismen, 1936) de Anna Freud
transcribe por «negación» (négation) el término Verleugnung, que esta autora utiliza en un
sentido similar al que le dio S. Freud.
Freud puso en evidencia el procedimiento de negación en la experiencia de la cura. Muy pronto
encontró en las histéricas que trataba una forma especial de resistencia: «[...] cuanto más se
profundiza, más difícilmente se aceptan los recuerdos que surgen, hasta el momento en que, en
las proximidades del núcleo, nos hallamos con que el paciente niega incluso su reactualización».
El Análisis de un caso de neurosis obsesiva proporciona un buen ejemplo de negación: el
paciente, siendo niño, había pensado que conseguiría el amor de una niña a condición de que le
ocurriera una desgracia: «[...] se le impuso la idea de que esta desgracia podría ser la muerte de
su padre. Rechazó inmediatamente tal idea con toda energía; todavía hoy se defiende contra la
posibilidad de haber experimentado semejante "deseo". Según él, había sido una simple
"asociación de ideas". -Yo le objeto: si no fue un deseo, ¿por qué se rebela contra él?
-Simplemente por el contenido de esta representación, de que mi padre pudiera morir». La
prosecución del análisis vino a demostrar que existía ciertamente un deseo hostil hacia su padre:
«[...] al primer "no" de rechazo se sumó pronto una confirmación, al principio indirecta».
La idea de que la toma de conciencia de lo reprimido se manifiesta a menudo, durante la cura,
por la negación, constituye el punto de partida del artículo que Freud consagra a ésta en 1925.
«No hay mejor prueba de que se ha logrado descubrir el inconsciente, que el hecho de ver cómo
el analizado reacciona con estas palabras: "Yo no he pensado esto" o bien "jamás he pensado
en esto"».
La negación posee el mismo valor de confirmación cuando se opone a la interpretación del
analista. De ahí nace una objeción de principio que no escapó a Freud, que se pregunta -en Las
construcciones en análisis (Konstruktionen in der Analyse, 1937)-: ¿tal hipótesis no ofrece el
peligro de asegurar siempre el triunfo del analista? «[...] cuando el analizado asiente, tiene razón,
pero cuando nos contradice, esto es un signo de su resistencia y también nos da la razón».
El propio Freud dio una respuesta matizada a tales críticas, incitando al analista a buscar la
confirmación en el contexto y en la evolución de la cura. A pesar de todo, la negación sigue
poseyendo para Freud el valor de un indicador que señala el momento en que empiezan a
resurgir una idea o un deseo inconscientes, y esto tanto en la cura como fuera de ella.
En La negación (Die Verneinung, 1925), Freud dio de este fenómeno una explicación
metapsicológica muy precisa, que desarrolla tres afirmaciones estrechamente solidarias entre sí:
1) «la negación constituye un medio de adquirir conocimiento de lo reprimido [...];
2) »[...] lo que se elimina es sólo una de las consecuencias del proceso de represión, a saber, el
hecho de que el contenido representativo no llegue a la conciencia. Como resultado, tiene lugar
una especie de aceptación intelectual de lo reprimido, mientras que persiste lo fundamental de la
represión;
3) »mediante el símbolo de la negación, el pensamiento se libera de las limitaciones de la
represión [...]».
Esta última proposición muestra que, para Freud, la negación en sentido psicoanalítico y la
negación en sentido lógico y lingüístico (el «símbolo de la negación») tienen el mismo origen, lo
cual constituye la tesis principal de su trabajo.


Mais aqui

Vá ao cinema com o Contardo Calligaris- Convite













Clique na imagem para ampliar e ler.
Para saber mais sobre o filme, clique nos links.



Queridos Amigos do Grupo Cineclube Cnema Paradiso

Essa edição 273 do jornal é especialíssima!

Por ser um prenúncio da nossa festa de 15 anos do grupo, colocamos dois lindos artigos:
um do Sérgio Rizzo- aqui poderá ler- e outro do Contardo Caligaris, leiam aqui.
Os dois convidados que estarão em nossa festa- filme-
debate na próxima segunda-feira, dia 9 de agosto.

O local é a nossa sala de cinema favorita: o Cine SESC, Rua Augusta, 2075.
O coquetel terá início às 19 h. Entraremos na sala de cinema às 20 h para assistir
de Marco Bellocchio
e depois haverá debate com nossos convidados.
Uma festa com a nossa cara!
Uma delícia!!!

Podem divulgar aos amigos porque o cinema é grande e a entrada é franca!
Enviarei uma mensagem só com o convite da festa.

Abraços e até lá!
Cláudia Mogadouro