segunda-feira, agosto 06, 2007
Mãe e filho- o vínculo primordial/ Arquivo- revisado
Estive pensando o que escrever para a blogagem coletiva de hoje início da Semana Mundial de Aleitamento Materno.
Fomos convocadas por Denise- especialista no assunto.
Ao nascer o bebê sai do conforto do útero e cai num mundo hostil, frio, cheio de sons estranhos, sente fome... Nada disto acontecia antes, vivia num paraíso, onde todas suas necessidades eram supridas. A mãe vem e lhe dá o peito. A primeira mamada ninguém esquece, é registrada como a primeira experiência de satisfação* e por mais que se busque satisfação igual, nunca alcançaremos. É um desejo que jamais será satisfeito.
A partir daí ele precisa da mãe, de uma mãe substituta, ou mesmo um bico duro de borracha, oferecido por um braço qualquer, para suprir sua necessidade e seu desejo de mamar. Neste instante começa o vínculo mais importante e definitivo para todos nós- o vínculo com a mãe.
No início da vida o bebê não sabe distinguir o corpo dele do da mãe ao mamar, ainda não tem maturidade para isto, ele e a mãe formam um só ser, aos poucos ele vai começar a reconhecer o rosto da mãe, vai se separando. Neste primeiro momento a mãe é boa e má****.
A mãe precisa aprender a reconhecer as necessidades do seu filho, distinguir os diversos choros, pode estar molhado, com frio, com calor, com cólicas, desconfortável, com sono ou com fome. Ou desejar apenas colo, o calor da mãe,o cheiro, bebês conhecem a mãe pelo cheiro. É mais fácil achar que é sempre fome, mas não é sempre fome. A mãe suficientemente boa- como dizia Winnicott- vai saber dar aquilo que o filho precisa na medida certa.
Mas e as crianças que não têm mães, ou não têm mães suficientemente boas? Estarão condenadas ao desamor? Ao abandono?
Muitas sofrerão de um abandono devastador, nunca terão o afeto que esperam, estarão sempre querendo mais e mais, outras com sorte terão uma mãe substituta, que pode ser uma babá, uma avó, um pai, um funcionário de um orfanato, com sorte todos serão salvos. Mas há os que não terão sorte, estes serão os condenados, cairão ao primeiro empurrão que a vida lhes der, sofrerão mais que os outros de rejeição, serão perseguidos por abandonos- até porque muitos irão buscar caminhos que os leve novamente ao abandono total que a mãe deixou com herança.
A mãe boa é a que deseja o filho**, desde antes dele nascer, ela o nomeará, o terá não como uma extensão dela, um apêndice. A mãe boa vai olhar o filho e reconhecê-lo, dirá a ele que o ama, deixará que se separe dela sem chantagens, sabendo que continuará sendo amado.
Bebês amamentados pelas mães são mais saudáveis, mais tranqüilos, mais seguros, mais amados, com certeza serão pessoas mais realizadas, que saberão encontrar os melhores caminhos na vida.
Leiam mais nestes textos, que encontrei agora ao acaso, se não forem os melhores, sorry, dei uma olhada apenas:
* Freud
** Lacan
*** Winnicott
ou aqui.
ou aqui
****Melanie Klein
Lembrei deste trecho de um livro:
"Nestes breves instantes em que falo à toa, é como se eu morresse. Porque o ser amado se torna um personagem de chumbo, uma figura de sonho que não fala, e o mutismo, em sonho, é a morte. Ou ainda: a Mãe gratificante me mostra o Espelho, e me fala:
"É você". Mas a Mãe muda não me diz o que eu sou: não tenho mais base, flutuo dolorosamente sem existência".
Roland Barthes em "Fragmentos de um discurso amoroso".
Elianne Diz de Abreu
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Elianne, belo texto, muito instrutivo. Este contato entre a mméae e a criança é um tesouro. Beijos.
Postar um comentário