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domingo, abril 19, 2009
Melanie Klein iniciou-se na psicanálise para curar sua própria depressão
22/09/2008 - 21h07
Melanie Klein iniciou-se na psicanálise para curar sua própria depressão
da Folha Online
Uma das autoras que mais contribuíram para a compreensão do funcionamento psíquico inconsciente depois de Freud, Melanie Klein teve seu primeiro contato com a psicanálise como forma de tratamento para a própria depressão. Com vários problemas na família, como a morte de dois de seus irmãos, da mãe, dificuldades para criar os filhos e no casamento, ela começou sua primeira análise com um discípulo de Freud, o húngaro Sándor Ferenczi.
Reprodução
Livro sintetiza a obra da psicanalista Melanie Klein
No primeiro capítulo do livro "Folha Explica - Melanie Klein", da Publifolha, os psicanalistas Luís Claudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra traçam uma pequena biografia de introdução à autora, essencial para a compreensão de sua produção científica. Os autores relatam como se deu essa aproximação com a psicanálise e como Melanie passou, então, a experimentar em seu filho caçula (o primeiro "paciente") as teorias psicanalíticas.
O livro explica como, através de seu trabalho de análise com crianças e sem formação acadêmica, Melanie Klein elaborou teorias ousadas que também seriam utilizadas no tratamento psicanalítico de adultos. Um desses conceitos diz respeito ao caráter infantil --insaciável e desamparado-- de todo desejo humano: uma demanda grandiosa de amor, destinada ao desespero e à angústia.
Também no primeiro capítulo, que pode ser lido na íntegra abaixo, os autores mostram o período de rápida ascensão na Sociedade Psicanalítica Britânica, quando começou a se firmar o personagem em torno da autora e suas teorias inovadoras entraram em choque com o método de Freud e sua filha Anna, desencadeando uma polarização inédita até então.
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MELANIE KLEIN: PESSOA, PERSONAGEM E CONTEXTOS
Melanie Klein nasceu Melanie Reizes, nome de família de seu pai. Adotou o Klein só aos 21 anos, após o casamento com Arthur Klein. Ela veio ao mundo em Viena, no dia 30 de março de 1882, em uma família de origem hebraica bastante humilde, embora dotada de certo nível cultural. Era a quarta e última filha do casal Moriz (médico e dentista) e Libussa (dona de casa e proprietária de um pequeno comércio). Dois de seus irmãos, aos quais era especialmente ligada, morreram precocemente: sua irmã Sidonie, aos sete anos, quando Melanie contava apenas quatro, e seu querido irmão Emanuel, quando ela chegava aos vinte. Os temas da perda e da melancolia insinuaram-se bem cedo em sua existência e marcariam profundamente seu pensamento teórico. Mais adiante, a morte acidental de seu filho veio, ao que tudo indica, dar um impulso e uma direção ainda mais importantes em suas teorizações.
Tudo indica que Melanie Klein sofreu muito com as mortes de seus irmãos, especialmente Emanuel, que foi para ela uma espécie de mentor intelectual. Pouco tempo depois desta perda, ela se casaria com um dos amigos do irmão, o engenheiro químico Arthur Klein, de quem estava noiva desde os 17 anos. Ao lado de Emanuel, ou por seu intermédio, Melanie entrara em contato com o riquíssimo mundo cultural, artístico e filosófico da Viena da virada de século; e desde os 14 anos acalentara o sonho de se tornar médica.
Tudo isso foi impedido pelo casamento e nascimento de seus três filhos: Mellita, em 1904, Hans, em 1907, e Erich, em 1914, quando seu casamento já ia mal e Melanie Klein começava a buscar novos horizontes. No entanto, nunca cursou uma universidade: é a única dos grandes criadores da psicanálise que jamais teve uma vida acadêmica de base. Nem médica, como a maioria, nem psicóloga nem socióloga, antropóloga ou lingüista (como foram alguns analistas de renome no seu tempo), ela foi sempre uma pesquisadora autodidata - talvez por isso mesmo absolutamente original, embora um tanto inepta na comunicação escrita de suas idéias.
Após o casamento, o casal Klein deixa Viena e reside em diversas cidades do Império Austro-Húngaro, até chegar a Budapeste, na Hungria, em 1910. Durante esses primeiros anos, Melanie Klein teve dificuldades de cuidar de seus dois primeiros filhos e entrou em estados de profundo desânimo e desespero, o que a aproximou do tratamento psicanalítico. Para ela, a psicanálise, antes de ser uma profissão ou um interesse intelectual, foi uma experiência de crescimento e cura pessoal.
O ano de 1914 trouxe acontecimentos importantes. No âmbito mundial, estourava a Primeira Grande Guerra. No plano privado, morria Libussa, a mãe de Melanie, muito amada e muito invejada - seja por sua força e capacidade de apoio, quando tomava conta dos netos (durante os afastamentos de Melanie por razões de saúde e/ou depressão), seja por sua tendência à intrusão na vida das filhas. Uma "iídiche mama" exemplar.
Por fim, em 1914, já com 32 anos, dá-se o encontro de Melanie Klein com a psicanálise: ela lê um texto de Freud sobre os sonhos e começa a sua primeira análise com Sándor Ferenczi (1873-1933), o grande discípulo húngaro de Freud, buscando livrar-se da depressão. Pouco depois, quando o filho caçula Erich começava a apresentar alguns sinais de inibição intelectual (dificuldade de aprendizagem generalizada), ela daria início a uma intervenção analítica com ele, guiada pelas teorias psicanalíticas. Erich nasceu no mesmo ano em que nascia a psicanálise na vida de Melanie Klein e foi seu primeiro "paciente". Anos mais tarde, a morte acidental de outro filho, na década de 1930, ensejaria a redação do primeiro dos trabalhos mais influentes da autora, dedicado à compreensão dos estados depressivos e maníacos.
Em 1918, Melanie Klein participa do 5º Congresso Internacional de Psicanálise, sediado em Budapeste, e escuta Freud ler um texto sobre os avanços da terapia psicanalítica. No ano seguinte, ela escreve e apresenta seu primeiro texto, baseado no tratamento de Erich, e ingressa na Sociedade Psicanalítica de Budapeste.
Em 1921, muda-se para Berlim, um centro de atividade e formação psicanalítica quase tão importante quanto Viena. Na Alemanha, em 1922 - com 40 anos de idade -, Melanie Klein ingressa como membro- associado na Sociedade Psicanalítica de Berlim e, em 1924, começa uma segunda análise com Karl Abraham (1887-1925), outro dos mais destacados discípulos de Freud.
Já em 1925, ela é convidada a dar algumas palestras em Londres, para onde se mudará no ano seguinte. Essa mudança respondia aos convites dos analistas ingleses - muito impressionados pelo pensamento ousa do e pela singularidade da jovem senhora Klein, que co meça a se converter em personagem - e também ao sentimento de orfandade de Melanie, após a morte inesperada e precoce de Karl Abraham, no final do ano anterior. Sem seu analista e protetor, ela ficava exposta às críticas de membros mais conservadores da Sociedade às suas idéias relativas ao atendimento de crianças, completamente novas e originais, e divergindo do que pensavam Freud e sua filha Anna, que também se dedicava à extensão da psicanálise ao atendimento de crianças.
Em 1927, Melanie Klein torna-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica. A partir de então sua ascensão é fulminante. Os primeiros pacientes infantis eram filhos de colegas que nela já depositavam muita confiança, apesar do caráter revolucionário do que propunha. Havia, de fato, uma oposição radical entre sua proposta para a análise de crianças, que deveria ser o mais próxima possível da análise de adultos, e o modelo defendido por Anna Freud, muito mais conservadora nesse aspecto. Para ela, a psicanálise com crianças se aproximava mais de um trabalho de feição pedagógica e preventiva, enquanto para Klein o atendimento mesmo de crianças muito pequenas exigia modificações técnicas, mas não diferia do tratamento psicanalítico de adultos em seus objetivos e metas.
Em 1932, Melanie Klein publica seu primeiro livro, A Psicanálise de Crianças, que expõe os fundamentos técnicos da análise infantil mediante o brincar, e aborda as ansiedades precoces e seus efeitos no desenvolvimento: em excesso, as ansiedades bloqueiam o desenvolvimento emocional e cognitivo, mas sua ausência também é contraproducente. Como desenvolver a capacidade da criança acolher, experimentar, enfrentar e dominar suas ansiedades de modo a tornar-se apta à vida, à aprendizagem e à criação? É a questões como essas que o livro procura trazer respostas.
No âmbito familiar, a década de 1930 traria duas grandes dores: a morte de seu filho Hans, em 1934, ao escalar uma montanha, e as agressões da filha Mellita, que se tornara analista e ingressara na Sociedade Britânica. A morte de Hans afetou-a profundamente. Foi na elaboração desta perda que Melanie Klein escreveu o seu primeiro texto realmente ousado e totalmente inovador: "Uma Contribuição Para a Psicogênese dos Estados Maníaco-Depressivos" (1935), em que o tema da perda e da melancolia ingressava no campo de sua teorização. No outro front, suas relações com a filha Mellita iam de mal a pior e jamais puderam ser recuperadas.
Freud e Anna Freud não apreciavam as propostas kleinianas. A partir da década de 1940 - depois que os Freud se refugiaram do nazismo em Londres - formam- se dois blocos na Sociedade Britânica: de um lado,os adeptos de Melanie Klein, que aos poucos vai-se tornando uma figura carismática, verdadeira chefe-de-escola; do outro, os adeptos do freudismo clássico e os "inimigos de Melanie", como sua filha. É bom que se diga que muitos analistas importantes da Sociedade Britânica procuraram se manter eqüidistantes e equilibrados, mas o período foi marcado pela polarização.
Tal controvérsia ficará mais intensa a partir do texto de 1935. Durante toda a década de 1940, outros textos de Klein e de seu grupo de seguidores (em sua maioria, analistas mulheres) alimentam a polêmica. O "grupo kleiniano" tinha à frente Suzan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière; a própria Melanie Klein exerce desde então seu domínio com mão de ferro. A partir desta época, à pessoa da psicanalista sobrepõe-se de fato a personagem "Melanie Klein", representando uma linha evolutiva do pensamento psicanalítico e uma posição institucional.
Apesar da contundência dos debates, é notável o fato de que Melanie Klein e seu grupo permanecem na Sociedade Britânica de Psicanálise e na Associação Internacional de Psicanálise (IPA), não sendo expulsos - como viria a acontecer com Lacan na década seguinte - nem abrindo uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung anteriormente.
Na segunda metade da década de 1940, Melanie Klein lança mais um texto impactante, uma nova radicalização de seu pensamento teórico: "Notas Sobre os Mecanismos Esquizóides", e no início da década seguinte o grupo kleiniano publica Desenvolvimentos em Psicanálise, com artigos de Melanie Klein, Joan Rivière, Suzan Isaacs e Paula Heimann, produzidos no contexto das Controvérsias Freud-Klein, e que reúne e aprofunda as divergências entre a teoria kleiniana e a freudiana, dando um maior acabamento ao "sistema kleiniano". Desde então, o kleinismo se converte em uma "escola" de pensamento psicanalítico, o que lhe dá grande força institucional e criativa, mas também um impulso na direção do dogmatismo e da auto-referência.
Na verdade, a emergência do kleinismo inaugura a "era das escolas": passaram a existir freudianos (ligados a Anna Freud e aos autores da Ego Psychology, vienenses emigrados para os Estados Unidos, como H. Hartmann), kleinianos e "independentes" (os analistas britânicos não alinhados às duas posições anteriores); mais tarde, surgirão os lacanianos (freudianos a seu modo), os bionianos, os psicanalistas da Self Psychology, como H. Kohut, os intersubjetivos etc. Cada grupo passa a se referir quase só à literatura científica dos que pensam e atuam de forma idêntica ou muito semelhante, excluindo os demais. Três décadas do movimento psicanalítico estiveram sob a égide da "era das escolas" e da dispersão teórica inaugurada pelo kleinismo. Hoje, esta divisão tende a ser superada e o pensamento kleiniano, entre outros, está muito mais integrado ao conjunto da psicanálise contemporânea.
No entanto, enquanto a era das escolas estava em seu apogeu, o kleinismo foi sempre muito atuante, e ainda hoje autores estritamente kleinianos continuam em atividade e publicando. Em 1955, saía uma nova coletânea dos pensadores alinhados com a teoria kleiniana - New Directions in Psycho-Analysis (Novas Direções em Psicanálise) -, incluindo, ao lado de textos de Klein, ca pítulos de autoria de Bion, Money-Kyrle, Elliot Jacques e Herbert Rosenfeld, com artigos de duas novas colaboradoras: Marion Millner e Hanna Segal, esta última uma das mais lúcidas e equilibradas kleinianas, que segue produzindo até os dias de hoje. A obra tem uma parte clínica e outra dedicada à interpretação psicanalítica da vida institucional, da ética e da estética: seu conjunto revela a força e a abrangência das teorizações kleinianas e seu poder de inspiração para novos pensadores.
Finalmente, em 1957, seria publicado o último livro de Melanie Klein com grandes novidades teóricas: Inveja e Gratidão, um livro pequeno em tamanho, mas denso, mostrando as duas disposições afetivas básicas do ser humano, amor e ódio, desde os primeiros anos e ao longo de toda a existência.
Um texto mais antigo, de sua autoria, será logo em seguida editado: Narrativa da Análise de uma Criança, no qual Melanie Klein esteve trabalhando até poucos dias antes de morrer, em 1960. Trata-se do relato, passo a passo, de seu trabalho clínico com um paciente de 10 anos, apresentando graves comprometimentos psíquicos e relacionais, a quem ela atendera intensivamente durante quatro meses. Todas as sessões tinham sido anotadas e discutidas em seus aspectos clínicos e teóricos. A análise fora conduzida no início dos anos 40, durante a guerra, quando analista e paciente se achavam refugiados em uma pequena cidade próxima de Londres, para fugir dos bombardeios.
Durante os anos seguintes, Melanie Klein foi relendo e comentando em notas de rodapé as 93 sessões transcritas, em um grande exemplo de seriedade e honestidade intelectual. No livro, o seu trabalho clínico de duas décadas antes é exposto, revisto e analisado com base em tudo que ela fora descobrindo e elaborando teoricamente nos vinte anos seguintes. É um exemplo excepcional da analista em atividade e evidencia como nunca o processo reflexivo e produtivo de Melanie Klein.
quinta-feira, abril 16, 2009
Lembranças traumáticas- Contardo Calligaris
E, como ele diz no final, é sempre bom lembrar- por isso eu gosto de psicanálise- é isto, lembrar, falar...
CONTARDO CALLIGARIS
Lembranças traumáticas
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Trauma não é uma lembrança muito forte; é um evento lembrado de forma insuficiente
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O "NEW York Times" de 6 de abril passado publicou um artigo de capa sobre pesquisas recentes graças às quais, um dia, será possível "editar memórias indesejáveis" (por exemplo, Heida, Englot, Sacktor e outros, "Neuroscience Letters", vol. 453, nº 5).
Apesar dos progressos da neurociência, estamos longe de entender exatamente o que é a memória. Simplificando, uma lembrança parece depender de substâncias que constroem pontes entre células do cérebro, pontes silenciosas, mas que podem ser imediatamente solicitadas caso um evento venha a ativar uma das células. Por exemplo, se você for Proust, quando der uma dentada numa madeleine, você não vai apenas saber que já comeu uma madeleine no passado: o gosto do docinho vai circular por inúmeras pontes e despertar todas as células relacionadas com as experiências de sua infância em Combray.
Até aqui, pensava-se que uma centena de moléculas estivesse envolvida na construção dessas pontes entre células.
A nova pesquisa encontrou uma substância, a proteína PMKzeta, cujas moléculas, mais do que outras, constituem e fortalecem as ditas pontes que, uma vez ativadas, produziriam uma lembrança. A pesquisa operou assim: escolheu ratos que tinham aprendido (de maneira permanente) a evitar pequenos choques elétricos no chão. Logo, injetou, no próprio lugar da dita memória, uma droga, chamada ZIP, que inibe a PMKzeta. E eis que os ratos voltaram à estaca zero: agiam como se não conhecessem o terreno.
Em tese, se a coisa funcionar nos humanos, deveria ser possível consolidar as lembranças injetando no cérebro PMKzeta (ou estimulando sua produção). Imagine as aplicações possíveis na demência senil ou, simplesmente, no envelhecimento (sem contar que todos começariam a querer injeções de PMKzeta para melhorar a memória deles e a de seus filhos). Até aqui, tudo bem.
O problema está na outra aplicação possível da pesquisa. O articulista do "Times" se entusiasmava com a ideia de que, um dia, com injeções cerebrais de ZIP, poderíamos produzir o esquecimento das lembranças desagradáveis ou traumáticas -claro, se a gente dominar o processo com precisão (para esquecer uma briga de casal, você não quer, ao mesmo tempo, perder a lembrança de seu primeiro beijo). Essa atitude do articulista talvez seja (perigosamente) compartilhada por parte da comunidade científica; ela se funda na ideia de que um trauma seria uma lembrança que nos estorva por ser, ao mesmo tempo, excessiva e desnecessária. Vistas do consultório de um psicoterapeuta, as coisas não estão bem assim.
Primeiro, a ideia de que a lembrança do trauma seria desnecessária e descartável é problemática. Se você foi estuprado na infância, é provável que você tenha construído sua vida inteira ao redor da lembrança dessa violência sofrida. Imaginemos, por exemplo, que, desde então, a figura que dá sentido à sua vida seja a da vítima: suprimir essa lembrança com uma injeção significaria suprimir um dos alicerces de sua personalidade e de sua existência. O que sobrará de você sem aquela lembrança traumática?
Outro problema. Tudo indica que um trauma não é uma lembrança nociva por ser forte demais; ao contrário, em geral, ele é um evento mal lembrado ou lembrado de maneira insuficiente. Mesmo caso: você foi estuprada quando criança; em muitos casos, essa experiência é traumática porque é lembrada SÓ como uma violência penosa que você sofreu. Você não memorizou, por exemplo, sua satisfação em se sentir objeto da atenção de um adulto ou mesmo sua descoberta culpada de emoções e sensações que lhe eram, até então, desconhecidas. O fato de reativar essas lembranças não desculpa o adulto estuprador, mas, para você que sofreu a violência, o sentido da experiência passada muda bastante; talvez não lhe seja mais necessário se conceber para sempre como vítima da vida.
Em suma, a solução do trauma não consiste em apagá-lo, mas, ao contrário, em lembrá-lo melhor. Se quiséssemos usar a técnica da pesquisa citada, eu sugeriria, no lugar onde o trauma está registrado, injeções de PMKzeta para ajudar a memória, não de ZIP para apagá-la.
O tempo das injeções cerebrais nos prontos-socorros ainda está longe. Mas não é cedo para notar que a cura das experiências penosas de nossa vida não está no esquecimento, mas no esforço para se lembrar delas em toda sua incômoda complexidade.
ccalligari@uol.com.br
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