segunda-feira, setembro 24, 2007
Teste seu cérebro
Achei este teste hoje no blog do Fernando Stickel.
A boneca rodava no sentido horário, aí eu pensei:"Como faço para copiar o endereço?" Ela passou a rodar para o outro lado. Incrível!
O nosso cérebro...tantas coisas desconhecemos...
domingo, setembro 23, 2007
O sétim selo/ Teresa Sampaio comenta
Trailer do filme aqui.
O Sétimo Selo
Ingmar Bergman
Dia 28 de Setembro de 2007, às 20:00 hs, na Casa da Ribeira, Natal.
Ficha Técnica
Título Original: Det Sjunde Inseglet
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman, baseado em peça de Ingmar Bergman
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (Suécia): 1956
Atores: Max Von Sydon
Bibi Andersson
Gunnar Björnstrand
Bengt Ekerot
Nils Poppe
Inga Gill
Estúdio: Svensk Filmindustri
Produção: Allan Ekelund
Música: Erik Nordgren
Direção de Fotografia: Gunnar Fischer
Figurino: Manne Lindholm
Comentário de
Tereza Sampaio*
Este é um filme sobre o silêncio de Deus e as tentativas de respostas dos homens frente às trevas e ao caos apocalíptico que reinam na Idade Média. Entretanto, ele também tem elementos de comédia em diversas seqüências e muitos contrastes entre o sombrio e o burlesco. O roteiro do filme é fascinante, tendo merecido um emocionado prefácio de Bergman, que o considerava o seu filme favorito.
Na seqüência da abertura ouvimos o Dies irae e em seguida vemos uma ave negra sobrevoando a praia em meio a densas nuvens, enquanto uma voz serena narra uma passagem do Apocalipse. Isso faz com que o filme comece com beleza e suspense.
“Quando o cordeiro abriu o sétimo selo... houve um silêncio no céu por cerca de meia hora. Eu vi sete anjos diante de Deus... e a eles foram dadas sete trombetas.
O cavaleiro Antonius Block e Jons, seu escudeiro, retornam de uma desastrosa Cruzada e dormem na praia. Ao lado deles, um jogo de xadrez. Com sobriedade, compenetração e lentidão nos gestos, Antonius Block lava o rosto e ora ao som forte das ondas batendo nas pedras. Ao se voltar, o silêncio se faz e ele se depara com a figura da Morte.
Utilizando-se de uma alegoria, Bergman materializa a Morte numa personagem que vai se revelando um tanto patética, trapaceira e próxima aos humanos, principalmente no que diz respeito à ignorância . Ela acompanha Antonius Block há muito tempo e vem avisá-lo de que é chegada a sua hora. Então ele propõe à Morte uma partida de xadrez. ‘Como sabe que jogo xadrez?’, pergunta a Morte. Ele responde: ‘Vi nas pinturas e escutei nas canções’ . Um toque de humor é colocado no sorteio das peças. A Morte sorteia as pretas e diz: ‘bem apropriado, não acha?’.
Antonius Block tenta adiar o seu fim, esperando obter respostas e compreender o silêncio de Deus.: ‘Quero conhecimento, não fé ou presunções. Quero que Deus estenda as mãos para mim, que mostre o seu rosto, que fale comigo. Mas ele fica em silêncio.’ E a Morte retruca: ‘talvez não haja ninguém’.
Assim, Antonius Block coloca a sua questão; o silêncio de Deus diante da morte e do caos o angustia, ele acha que a Morte tem essas respostas, embora desde o início da partida de xadrez ela tenha dado sinais de que, assim como os humanos, ela também nada sabe; ela é apenas silêncio e escuridão.
Muitos acreditam que há um Outro, no caso Deus, que tudo sabe a respeito da vida e da morte, e tentam interpretar o silêncio diante disso na tentativa de preencher esse indizível, de dar uma consistência imaginária a Deus, tamponando o seu silêncio. Para estes não há enigma; Deus envia sinais, fala o tempo inteiro, tem os seus desígnios, o que faz da religião um delírio compartilhado, como sublinha Freud.
Antonius Block é aquele que não pára de questionar, como lhe diz a Morte. Vindo das Cruzadas, tendo tudo perdido, vendo a população ser dizimada pela peste, tendo ele mesmo matado pessoas em nome de Deus e se afastado de Karin, a mulher a quem ele amava, precisava saber de onde vinha aquele vazio e encontrar um sentido que aplacasse a sensação da inutilidade de tudo aquilo.
Jons, seu irônico escudeiro pensa diferente. Ele é o contraponto de Block. ‘Dez anos em terra sagrada sendo mordidos por cobras, mosquitos e animais selvagens, assassinados por pagãos, envenenados pelo vinho, infestados por piolhos que nos devoravam e a febre que matava. Tudo pela glória de Deus’, diz ele. Jons é aquele que despreza a morte, zomba de Deus, ri de si mesmo e sorri para as mulheres. Num diálogo entre o ferreiro Plog e sua mulher, Jons antecipa a fala desta, mostrando que conhece as mulheres. Esta é uma cena bastante divertida do filme.
A morte está por toda a parte, túmulos são abertos, restos de cadáveres estão espalhados, a terra está devastada pela peste. A peste e a devastação poderiam ser desde já uma resposta de Deus, resposta que levaria à concepção de que Deus é tenebroso ou que nos odeia, ou que fizemos algo pelo qual precisamos ser punidos.
Na belíssima cena de uma procissão ao som de canto gregoriano, mulheres se chicoteiam, padres blasfemam, acreditando que Deus mandou o seu enviado, que o diabo está encarnado na feiticeira, uma menina acusada de ter feito sexo com o diabo e que, portanto, precisa ser crucificada e queimada. As cenas da procissão procuram fixar a câmera no rosto das pessoas que expressam horror e êxtase, numa fé cega e desesperada. Essa cena contrasta com a anterior, na qual a trupe de teatro trata do mesmo tema com bastante humor...negro. ‘Alguém de negro dança na praia, corre na praia, se agacha na praia, defeca na praia, permanece na praia’.
Como diz Freud em ‘O Mal-Estar na Cultura’, descobrir que a vida não tem um propósito traria uma perda de valor, o desencantamento do homem em sua extrema presunção. Para afastar o sofrimento e o desamparo, as pessoas recorrem ao que Freud chamou de ‘técnicas de vida’, entre elas a arte, o trabalho, a ciência, a religião e o amor. Todas elas, entretanto são falhas, deixam furos, algo indizível aparece sob a forma de sofrimento, de incerteza e angústia.
No desenrolar da trama de “O Sétimo Selo”, Bergman vai mostrando algumas técnicas de vida como a arte, o amor, a fantasia e a religião.
Em meio à terra desolada, Mia e Jof, um casal de artistas de teatro, se destaca como um sopro de vida e de alegria no universo da obscura religiosidade da Idade Média. Eles se salvam pelo amor, pela arte, pelo humor e pela fantasia. Vale lembrar que Jof está longe de ser um herói. Ele sofre humilhações numa taverna, mostra-se frágil, não se ocupa de questões solenes. O casal acolhe Antonius Block e Jons, e o cavalheiro se mostra comovido com tudo – a simplicidade, o amor, a ausência de pretensões filosóficas, o estilo de vida: ‘Não me esquecerei disso: o silêncio... a tigela de morangos e o leite. Seus rostos na luz do entardecer. Mikael dormindo na carroça e Jof com a sua canção. Tentarei lembrar do que dissemos e levar essa lembrança com cuidado, como se fosse uma tigela de leite’. Jof tem visões, algumas das quais correspondem à realidade.
A religião, outra técnica de vida não se mostra como uma saída muito amena. Raval, o antigo estudante de teologia, conhecido pelo nome de Doutor Mirabilis Celestis et Diabolis, transforma-se num ladrão que rouba dos mortos, em instigador de desavenças e estuprador. Foi Raval quem convenceu Antonius a partir na Cruzada para a terra sagrada. Em nome de Deus padres investigam a causa das mortes violentas e repentinas, deduzindo que são fruto do castigo divino. São dias marcados pela ira de Deus. Mulheres se flagelam pela glória de Deus.
A religião, neste caso, dá consistência ao silêncio de Deus, uma vez que este responde pela fúria.
Uma seqüência interessante do filme é a de Antonius Block diante de um confessionário falando sobre o vazio, que se espelha em seu rosto. Depois de algum tempo ele se dá conta de que é a Morte o seu estranho confessor. Esta lhe pergunta: ‘Como pretende vencer a Morte’? Ao que ele responde: ‘Tenho uma jogada com o bispo e o cavalo que ela não conhece. Quebrarei sua defesa’. A Morte, trapaceira, traiçoeira mostra o seu rosto e Antonius sente ou finge indignação ou surpresa.
Era um blefe para adiar a Morte ou a Morte o enganou? Em outro momento, diante do tabuleiro de xadrez, a Morte lhe diz: ‘você me enganou?’ E ele responde: ‘caiu na minha armadilha’. Não seria a única vez que ele tenta enganar a Morte. Nessa mesma jogada, ele descobre que a Morte pretende pegar Mia, Jof e o filhinho Mikael. Antonius tenta distrair a Morte de todas as maneiras até ver a carroça sumir de vista. Ninguém me escapa, diz a Morte. Mas ainda não foi dessa vez que ela conseguiu pegar a família da trupe de teatro. Jof, Mia e Mikael foram salvos pela visão de Jof, que os fez fugir enquanto Antonius Block distraía a Morte.
Em outra seqüência do filme, Antonius e Jons aproximam-se da “feiticeira”. O cavaleiro tenta descobrir algo sobre o diabo, pois ele deve saber sobre Deus. Ela está tomada pela certeza de que o fogo não a tocará, pois o diabo não vai permitir. Antonius Block tenta saber o que ela vê, quem cuida dela: ‘é um anjo, o diabo, Deus ou é apenas o vazio?’ Mas parece que ela vê o mesmo que eles e teme o mesmo que eles. Nesse instante Jons e Antonius invertem os papéis. Tomado pela comoção, Jons quer acreditar que a menina realmente está vendo algo, enquanto Antonius se desespera ao se dar conta de que provavelmente ela não está vendo nada.
Após uma jogada, a Morte anuncia que o xeque-mate será na próxima. O diálogo crucial que ela e Antonius Block então estabelecem define claramente a busca inútil de respostas ao silêncio divino. Diz a Morte:
- Quando nos encontrarmos novamente, seu tempo e o de seus companheiros será encerrado.
- E você me revelará seus segredos.
- Não tenho segredos.
- Então você nada sabe.
- Não tenho nada a dizer.
A cena final parece uma pintura: é a dança da morte que arrasta a todos. Ela é descrita por Jof, em uma de suas visões: ‘E a Morte, o severo mestre, convida-os a dançar. Quer que todos dêem as mãos para formarem uma longa fila’...
Tereza Sampaio*
Natal, 20 de setembro de 2007
Teresa Sampaio é psicanalista.
sábado, setembro 22, 2007
Eros e psiquê
Antonio Canova
O genial Fernando Pessoa para vocês, e especialmente para meus queridos lusitanos:
Eros e Psiquê
Fernando Pessoa
Conta a lenda* que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
*A lenda aqui
sexta-feira, setembro 07, 2007
Projeto "Educar dançando"
Projeto "Educar dançando", vejam aqui
É um projeto lindo. Uma querida amiga, Maria Mazzarello, é a coordenadora. Vejam aí.
Mais aqui.
quinta-feira, setembro 06, 2007
Contardo Calligaris
Imperdível! Concordo com tudo que ele diz.
Tristeza e dignidade do suicídio
Contardo Calligaris
O ato suicida guarda sua dignidade porque é imprevisível como qualquer ato humano
QUANDO EU tinha 12 anos, um tio meu se suicidou. Era um tio de quem eu gostava e que gostava de mim. Ele enfiou a cabeça no forno e abriu a torneira do gás. Deixou uma nota, sucinta, que dizia: "Suicídio por razões profissionais e amorosas".
Meus pais não esconderam de mim as circunstâncias da morte do tio e me mostraram seu bilhete. Mesmo assim, imaginei perceber, em meus pais, uma certa vergonha. Isso, porque, no fundo, eu os culpava.
Foi a grande crise na minha idealização dos meus pais e, por conseqüência, na tranqüilidade de meu mundo: aparentemente, a amizade e o amor que eles ofereciam não tinham sido suficientes para dar a meu tio a vontade de continuar vivendo.
Nada me garantia, portanto, que eles saberiam fazer o necessário para que eu estivesse a fim de viver.
Foi assim que o luto pelo suicídio do meu tio foi também o fim de minha infância. Mas, em regra, quando se suicida um próximo de quem gostamos e que gostava de nós, não atribuímos vergonha e culpa a terceiros: esses sentimentos surgem em nós, ao descobrir que nossa presença e nosso amor não bastaram para que o outro quisesse viver. Em alguns casos, essa ferida nunca cicatriza.
Quando o suicida é nosso pai ou nossa mãe, o sentimento de não termos sido a razão suficiente para ele ou ela viverem fica conosco para sempre, como um fundo melancólico, como a sensação de uma insuficiência essencial ou de uma impossibilidade de sermos amados.
Quando o suicida é um filho ou uma filha, a perda (irreparável, pois o luto pelos nossos descendentes é contra a ordem das gerações) é acompanhada pelo sentimento de um fracasso, como se não tivéssemos conseguido transmitir o básico: a vontade de viver. Deve ser por isso que os monoteísmos consideram o suicídio como um pecado contra o criador: o suicida demonstraria o malogro de Deus. Assisti ao filme "A Ponte", de Eric Steele, e espero que continue em cartaz. Em São Paulo, já passa em apenas uma sala, duas vezes por dia.
Alguns anos atrás, Ted Friend publicou, na "New Yorker" (13/10/ 2003), um artigo sobre a estranha freqüência com que a famosa ponte Golden Gate de San Francisco é escolhida pelos suicidas. Aparentemente inspirado pelo artigo, Steele, durante um ano inteiro, filmou a ponte, sem parar. Houve 24 suicídios e várias tentativas que foram sustadas também graças à equipe de Steele (eles informavam a polícia quando detectavam, de longe, comportamentos "suspeitos").
Além disso, Steele entrevistou parentes e amigos próximos dos suicidas. O tom é justo, comovedor e tocante. O filme evita o caminho mais fácil, que consistiria em nos acusar sub-repticiamente, como se, quando alguém decide morrer, fôssemos todos, de uma maneira ou de outra, responsáveis. A maior qualidade do filme é, ao contrário, a sobriedade. O ato suicida guarda sua dignidade porque, apesar das explicações dos próximos, ele permanece misterioso e radicalmente imprevisível, como qualquer ato humano.
No dia 29 de agosto, o UOL publicou a notícia seguinte: na Áustria, dois homens viviam junto, em um apartamento-albergue dos serviços sociais. Brigaram. Um deles, Robert, psicótico em remissão, matou o outro; depois disso, ele abriu o corpo e o crânio do companheiro e comeu órgãos internos e cérebro. Quando a faxineira chegou, Robert, com a boca ensangüentada, comentou: "Veja só o que aconteceu". A porta-voz do Fundo Social de Viena declarou: "Se tivéssemos a menor idéia de que este tipo de coisa pudesse acontecer, teríamos transferido Robert para outro local e exercido um acompanhamento mais adequado". Alguém, na Áustria, deve estar criticando severamente o psiquiatra, o psicólogo ou a assistente social que, algum dia, afirmaram que Robert podia ser devolvido à sociedade.
Pensei nas poucas vezes em que, num tribunal, tive de dizer, em nome de minha "ciência", se alguém, a partir de então, seria ou não um bom pai ou uma boa mãe.
A verdade é que, uma vez os fatos acontecidos, somos capazes de interpretar, de encontrar explicações e mesmo de assumir responsabilidades e culpas que temos ou não temos. Mas tudo isso apenas retroativamente.
Em matéria de comportamento humano, somos quase sempre incapazes de prever. Não sei se é um mal: talvez essa ignorância seja a condição de nossa liberdade.
Veja aqui.
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