terça-feira, setembro 11, 2012

Freud e a feminilidade

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                                                              RESENHA - FREUD E O FEMININO

FEMINILIDADE

Carmen Silvia Cervelatti

Substantivo abstrato, feminilidade é o que dá a substância, o ser, o que nomeia o feminino. Este é o nome dado por Freud a uma de suas “Novas conferências introdutórias sobre Psicanálise”, a Conferência 33 (1933). Nela, Freud explicita que nem a anatomia nem a convenção podem definir masculinidade ou feminilidade.

A psicanálise não pretende descrever o que é ser mulher, o que é sem solução, nem mesmo poderá solucionar o enigma da feminilidade. Freud se dedicará sim a “investigar como uma criança predisposta à bissexualidade se torna uma mulher” . Duas tarefas a mais que o menino, a mudança de zona erógena e de objeto, fazem o “desenvolvimento” de uma menina ser mais complicado que o do menino. A situação edípica numa mulher é quase insolúvel, é “uma resolução provisória, uma posição de repouso que não se abandona tão cedo” .

O Édipo obscurece a percepção da ligação pré-edípica com a mãe, anteriormente considerada como destinada ao recalque. Depois da expulsão da menina da ligação com a mãe, o Édipo funcionaria como um porto seguro. A ligação com a mãe deixa restos quase insuperáveis nas mulheres; no entanto, Freud percebeu seus efeitos na clínica, especialmente na histeria e na paranoia, ao considerar que as relações libidinais com a mãe atravessam as três fases da sexualidade infantil. A paranoia tem seu germe no medo de ser envenenada ou de ser morta pela mãe. Na histeria, o apego e a fantasia de sedução são transferidos da mãe para o pai, ou seja, são provenientes do pré-edípico.

A coexistência dos estratos edípico e pré-edípico, o Édipo como resolução provisória para a mulher, e até mesmo a bissexualidade proposta por Freud como predisposição, são aspectos que, se aproximados, cada um a seu tempo, corroboram a divisão do feminino em duas vias, conforme proposto por Lacan com o não-todo para a posição feminina: há algo mais fora da referência fálica.

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