segunda-feira, outubro 10, 2005
Uma mulher extraordinária.
Ao criar este espaço imaginei que apareceriam muitos pais aflitos, é o que mais se ouve por ai, que não dão conta dos filhos, etc e tal, como eu gosto de falar de relacionamentos trouxe o tema, ai recebo o e-mail de T. aflita com o namoro da filha.
Minha resposta a questão dela trouxe a tona o sofrimento desta mulher corajosa e forte, leiam:
"Drª, agradeço a atenção e o carinho.
Sobre mim: 39 anos - divorciada há 7.
Nasci numa família pobre (7 irmãos - 5 mulheres) e apesar de entender as dificuldades, não compreendia a "ausência" de meus pais. Aprendi com a vida e com a pouca convivência com minhas irmãs.
Assim foi até os 13 anos. Criei meu mundo (romântico, sensível, e sozinha)- e vivi os piores momentos da minha vida qdo fui seduzida e violentada por um "amigo" da família (homem feito, maduro).
Engravidei...não tive coragem de contar a meus pais, aliás, a ninguém! Morria de vergonha e medo.
Fui embora de casa e sumi por 2 anos. Abortei com a ajuda de "amigos". Não me arrependi!
Quis morrer ou pelo menos chamar a atenção do mundo. Queria q soubessem q eu existia, q sofria...mas ninguém me via...
Trabalhei, estudei(sou Pedagoga),e aos 21 anos me casei com um homem maravilhoso -médico, bem de vida, e q me amava e eu o amava. Parecia conto de fadas! Veio o 1º filho, o 2º (a menina), os ciúmes e as agressões. Vivi pânico!
Lamentavelmente meus filhos foram vítimas dessa violência, pois presenciavam tudo. Não havia mais respeito, amor...nada. Vivi por 10 anos até ter coragem pra denunciá-lo à justiça. Não deu em nada! Só um divórcio conflituoso.
Há 3 anos veio o câncer.Químio, rádio, careca, astênica, anoréxica (e um catéter horroroso acima do peito). Já não era mais aquela linda mulher. Eu era um zumbi, algo pavoroso diante do espelho.Mas sabe de uma coisa? Eu não tinha medo do câncer, eu tinha vergonha por tê-lo.
O que mais me dói é que ainda acho q no mundo existam pessoas boas e assim vou insistindo em procurar. Poderia ser pior, não é? Poderia pensar de forma contrária...
Quanto à minha filha, por mais que eu tente ser amiga - amiga mesmo, sem reservas-, ela se afasta de mim. Nós nos amamos mas estamos bem distantes uma da outra...
O namorado dela? Gosto, confio...aí também reside meus medos, meus anseios..."
O relato de T. nos comove, vem de uma família grande e onde não havia amor o bastante para os filhos, foi violentada, vitima do meio onde cresceu. Fugiu, lutou e sobreviveu.
T. você é uma mulher extraordinária, acredite. Uma menina que passou por tudo que você passou conseguir estudar, vender a pobreza e o medo, é fantástico. Depois veio o casamento, o príncipe que virou sapo, o câncer e você está ai, firme, sobrevivente da dor e da doença.
Sua preocupação com a filha é sinal de cuidado, mas como dizem Beth e Luci, sua filha provavelmente terá um caminho mais fácil porque você soube amá-la. Interessante que fez pedagogia, queria saber mais sobre educação, mesmo inconsciente queria ser uma mãe melhor para seus filhos que sua mãe foi. E você conseguiu, creia.
É um exemplo para todas nós.
Comentários anteriores a esta resposta minha:
BethS disse:
Oh Tania, também fiquei comovida com a sua historia, e se você me permite gostaria de lhe dizer alguma coisinha.
Você é forte e lutadora, superou tudo isso que você escreve - agora ficou tudo pra tras.O cancer é como se tivesse sido a limpeza dos traumas - sossegue, passou, querida.
Seus filhos estão crescidos, voce com certeza foi uma boa mãe. Nossos meninos crescem rápido e chega um momento que precisam tomar as redeas da vida deles. A menina é novinha, mas tb tem a cabeça boa, assim penso.
Eu, se fosse você, relaxava, tudo vai dar certo. Agora é hora de vc se cuidar, fazer coisas alegres e prazeirosas, ser feliz.
Minha avo me ensinou uma coisa, que foi muito importante pra mim - e que passo pra você: na vida da gente é melhor sofrer por amor do que por nunca ter amado.
Beijo grande.
Desculpa se fui "invasiva".
T. disse:
Drª,
Apesar de uma neutropenia persistente e uma retração muscular causada pela radio, estou bem. Continuo sendo assistida por uma equipe médica competente e o prognóstico não é tão ruim.
Acredito q nossos erros e dificuldades só nos transformam em pessoas melhores do q somos. E o q mais quero é "errar menos"...
Não sei se soube amar minha filha como ela precisava. Eu a amo tanto q não mensurei esse amor. Talvez devesse...seria mais responsável...
Vou procurar o melhor caminho...rever conceitos subjacentes... enfim, ir ao encontro dela.
Tânia disse:
Beths,
Suas palavras só me confortaram. Obrigada!
É bom sabermos q existe alguém (ñ importa aonde) q seja solidário, compartilhe nossos sentimentos e nos dê atenção.
Sua avó é muito sábia! Amei sim e fui muito feliz. Ainda sou. Tenho 2 filhos lindos e saudáveis cuja esperança de um dia melhor se renova a cada sorriso deles.
Sou mulher e como tal também quero amar e ser amada novamente.
Não desisti...não desisto.
Beijos,
9:34 AM
Luci disse:
Tânia! Sua história comove, não pelo câncer, mas pela sua força em lutar e tentar, de alguma forma, minimizar os sofrimentos que os filhos possam vir a ter.
Só que a meu ver, não se pode evitar o sofrimento de ninguém, não está em nossas mãos. Os filhos não nos pertencem, são do mundo, do destino.
Entendo a sua preocupação, mas lembre-se de que a sua vida não é a deles e que o destino deles pode ser bem diferente, pois eles têm o seu amor, que pode fazer (e faz, tenho certeza) toda a diferença!
E não desista mesmo!
Estamos aqui para lembrá-la disto!
beijos!
8:05 PM
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5 comentários:
Olá, não estou conseguindo acesso a Blogger, na hora de publicar, não
Continuem comentando, vamos em frente. Um abraço, Elianne.
Sabe, eu nunca em toda minha vida, me deparei com uma manifestação tão grande, tão radiante..."Uma Mulher Extraordinária?...eu???...não!!!
Quando a gente se coloca no lugar de alguém que não dorme por pensar q ao acordar não vai ter comida pro(s) seu filho(s), não sabe como(de qualquer forma!..., não importa qual), vai sobreviver num mundo "cão" e achar que, por ter uma dificuldade de relacionamento com a filha(e um histórico lamentável de vida!) e ter um câncer- isso a transforma numa mulher extraordinária?!!!!
Eu tenho um plano de saúde, uma casa, comida na mesa e dois filhos saudáveis...e quem não tem nem um mínimo disso?...
Extraordinária é toda mulher q não tem nem sequer coragem ou, ao menos, um "computador"(Vcs) pra desabafar.
Obrigada ao ORIENTE-SE.
Tânia
Essa "anônima" é Tânia.
qdo me sento na frente desse computador e vejo um mundo ao meu redor, eu me sinto feliz...feliz...feliz...Já pensou em não ter ninguém pra dizer q vc ñ é feliz?...ou q sou feliz
???...Sabe, eu (hoje), vejo o reverso do q sou(no espelho!)-um traste!-mas ao mesmo tempo as fotos na geladeira me mostram uma mulher linda!!!.Linda!!!!!!eu sei q posso ser bem melhor do q fui...e do q sou...
Alguém pode me dizer q isso é ou ñ é importante?
Será q um rosto bonito, um corpo "tipo múmia: conservado; e "desejado" pelos padrões estereotipados,...são suficientes?...
Acho q as medicações não mexeram só com meu corpo...
Se alguém "me ler", dar pra me perdoar?...È ser muito "piegas", bobona, ridícula....Mas, mesmo assim...gosto de estar aqui.
Tânia, fico contente por vc dizer que há este espaço para poder dizer o que sente.
A beleza não é só a interior, nós sabemos, mas há pessoas que só vêem o lado de fora, infelizmente, outras não. Espero que vc possa ser feliz, encontre dentro de vc as razões para ser feliz.
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